Segunda Guerra Mundial

Foram muitas as causas do conflito que se espalhou pela Europa, África e Ásia. Um caldo negro de objetivos militaristas e expansionistas de regimes totalitários da década de 30, o surgimento do nazismo, o crescimento do  fascismo na Itália com poderes ilimitados para Benito Mussolini, o desemprego em massa,a grande industrialização da indústria bélica, tudo se juntou para desencadear uma guerra insana que se iniciou com a invasão da Polônia pela Alemanha de Adolf Hitler seguida pela declaração de guerra da Inglaterra e da França.

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De 1939 a 1941 as vitórias do Eixo  composto pela Alemanha, Itália e  Japão- que também visava expansão territorial- desestruturaram o status quo de grande parte do mundo. Conquistaram o norte da França, Iugoslávia, Polônia, Ucrânia, Noruega, Dinamarca, Bélgica, Holanda, Grécia, Luxemburgo, territórios do norte da África. O Japão, por sua vez, anexou a Manchúria e atacou Pearl Harbor no Havaí, o que fez com que os americanos entrassem na guerra com os Aliados.

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A França foi invadida pelos nazistas e assim permaneceu de maio de 1940 a dezembro de 1944. Em 1940 foi assinado um armistício na tentativa de  cessar as hostilidades. Uma área designada no norte e no oeste, a “zone occupé” foi ocupada pelo exército alemão, já  o governo francês  localizado em Vichy foi liderado pelo Marechal Pétain,  subordinado aos alemães. O terço restante do país, a “zone libre” foi totalmente controlado pelo governo de Vichy. A Alsácia e a Lorena foram reincorporadas à Alemanha sujeitando, dessa maneira, a população masculina ao recrutamento militar alemão. Vários departamentos ao longo da fronteira foram ocupados por tropas italianas, enquanto áreas ao longo da fronteira belga foram administradas por autoridades da ocupação alemã.

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A  ocupação nazista alterou drasticamente o modo de vida dos franceses. Com gasolina racionada e  horário do metrô reduzido, o povo encarou a escassez de meios de transporte utilizando a bicicleta. O abastecimento também foi reduzido drasticamente.  Tudo era racionado com tamanha parcimônia que o povo só obtinha determinada quota de alimentos através de longas filas ou comprando no câmbio negro a preços exorbitantes; o carvão, ao invés de servir de combustível para aquecimento no inverno, era direcionado para as fábricas alemãs.

 Nesse estado de coisas os judeus foram os que mais sofreram durante a ocupação. Além de perderem suas propriedades foram proibidos de trabalhar como professores, médicos, advogados e comerciantes. A partir de 1942, os maiores de 14 anos e até crianças  começaram a ser deportados para campos de concentração. Era o holocausto. Mas a partir de determinado momento as coisas começaram a mudar.

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Em Londres, o general Charles De Gaulle incrementou  o movimento de Resistência, que não era muito articulado na França. Com a ajuda militar de ingleses e americanos, a Resistência entrou em ação e até o final da guerra realizou diversas ações que culminaram com a insurreição popular em Paris de 19 de agosto de 1944 contra as tropas de ocupação . Depois de anos de penúria, humilhação e até certo conformismo, combatentes de todas as facções políticas francesas se uniram às forças aliadas e se insurgiram no Quartier Latin, estendendo-se pela Prefeitura, Île de La Cité, espalhando-se pela cidade. Unidos e machucados, os franceses lutaram e recuperaram a dignidade e o orgulho nacional, sob o comando de De Gaulle.

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Mas a guerra não acabou aí. Só terminou em 1945 com a rendição total primeiramente da Alemanha e da Itália. A Rússia, com seu inverno rigoroso, debelou qualquer tentativa de conquista e vitória de Adolf Hitler. O Japão, que resistia à assinatura do pacto de rendição, foi bombardeado dramaticamente pelos Estados Unidos com duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. Milhares de inocentes morreram, o efeito tóxico se alastrou, enfim, é um capítulo da história difícil de entender e de comentar. Para evitar outro conflito, em 10 de outubro de 1945 foi fundada a Organização das Nações Unidas-ONU, com sede em Nova York.

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Terminada a guerra, o Comitê Francês de Libertação Nacional transformou-se em governo provisório da República francesa. De Gaulle governou o pais durante quinze meses, mas teve que ceder  quando a nova Assembleia Constituinte divergiu de seus pontos de vista considerados unilaterais. E a IV República foi instituída na França após a promulgação da nova Constituição em 1946. A partir daí houve  progresso social, desenvolvimento econômico e a fundação da Comunidade Europeia. Mas a perda da Indochina e a guerra de independência da Argélia acabaram com  IV República. E em 1958 a Assembleia Nacional outorgou plenos poderes a Charles De Gaulle para governar o pais durante seis meses e redigir a Constituição da V República, aprovada por referendo popular.

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Sob nova Constituição, as colônias francesas conseguiram autonomia do governo central mas os nacionalistas de cada colônia ansiavam por independência. Em 1960, novamente a Constituição foi revisada permitindo a separação amistosa da França das antigas colônias.

Nessa conjuntura, o poder político francês do pós guerra estava dividido entre esquerda, gaulistas e outros conservadores numa situação conflitante. De Gaulle reelegeu-se em 1965, mas seu governo forte, nacionalista e conservador começou a ser superado pelas mudanças e pensamentos políticos.

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Com a França dividida politicamente, em 1968 uma onda de protestos  começou com  estudantes universitários se manifestando pelas reformas  educacionais. Evoluiu com o apoio do Partido Comunista, influente na confederação dos sindicatos, e dessa maneira, logo os protestos tinham a adesão de 9.000.000 de franceses. Manifestantes ergueram barricadas e a situação se tornou insustentável; o governo reprimiu fortemente, mas teve pouca  influência e foi obrigado a fazer concessões, como  a dissolução da Assembleia Nacional.

Enfraquecido, Charles De Gaulle, o grande heroi francês que  liderou a Resistência – que  enfrentou a oposição armada dos oficiais da direita do Exército,  negociou a independência das colônias,   reergueu a economia e desvinculou o comando militar da OTAN controlada pelos Estados Unidos – estava   sem a autonomia desejada. Reconhecendo o momento de se afastar, renunciou e se recolheu após um ano. Morreu em Colomberuy-les-Deux Eglises em 9 de novembro de 1970.

A partir dele, elegeram-se o democrata Georges Pompidou – que revolucionou a França culturalmente -, o republicano Valéry Giscard d’Estaing, o socialista François Mitterrand, Jacques Chirac, Nicolas Sarcozy –  com tendência de direita -, o socialista François Hollande e o jovem Emmanuel Macron, ministro de Hollande, pasme, do centrão!

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A arte imita a vida

As ideias começavam a se dividir entre duas forças, comunismo e fascismo, e a ameaça de guerra era constante. Com o que se podia chamar de paz, Paris se ligava a Londres e Bruxelas através das primeiras linhas aéreas comerciais e  vivia um momento de grande criatividade artística e cultural. Enquanto isso, em Munique, Hitler mandava queimar em praça pública o que considerava arte degenerada, e Goebbels incinerou as telas de Marc Chagall. Foi o fio condutor que fez com que Chagall, Modigliani, Sonia Delonay e Foujita dentre outros boêmios constituíssem a Escola de Paris em Montparnasse. Vários artistas, escritores, dentre eles judeus e eslavos, deixaram seus países e se refugiaram  na França onde se sentiam mais seguros e   livres para se expressar.  Paris se tornou polo de atração para artistas, um porto seguro para uns, uma festa para outros. Pintores e escritores do mundo inteiro como Dos Passos, Hemingway, Henry Miller, Anais Nin, Gertrude Stein, Max Jacob, Apollinaire e tantos outros   se encontravam preferencialmente em Montmartre, Montparnasse e Saint-Germain-des-Prés.

Culturalmente, com o fim da Primeira Guerra, Paris assistiu ao surgimento dos movimentos de vanguarda e de arte moderna. O indivíduo foi dissolvido, o conteúdo foi esmaecido e o real deixou de ser referência. O espectador foi convidado não mais a ver a obra, mas a refletir sobre ela. Eclodiu o Abstracionismo com Mondrian, a desconstrução da figura com Pablo Picasso e a geometrização da forma com Georges Braque. A realidade foi vista em miniatura e o indivíduo passou a ser apenas um traço na arte de Paul Kleee e o objeto do cotidiano foi elevado ao status de obra de arte com Marcel Duchamp. Ao mesmo tempo, o universo artístico foi atingido pela teoria freudiana e pelo conceito do inconsciente, como se viu na obra dos surrealistas Salvador Dali e René Magritte.

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Na literatura, surgiu o Existencialismo, que se desenvolveu como consequência da filosofia de Martin Heidegger e Husserl e influenciou o mundo até a década de 60. As obras desses pensadores foram traduzidas para o francês na década de 30 e influenciaram os meios intelectuais. Heidegger e Husserl criaram o conceito do ser em circunstância, o dasein, onde o ser filosófico não era mais o ser em si, o sein, mas o ser  no  aqui e no agora, inserido na história. O discípulo mais influente  foi o parisiense Jean Paul Sartre que em suas  duas primeiras obras A Náusea (1938) e nos contos de O Muro (1939) colocou o tédio e o enjoamento como forma de resistência à situação vigente na França e na Europa. Mais tarde publicou sua obra fundamental da filosofia existencialista francesa, o tratado O Ser e o Nada, que sistematiza o Existencialismo do ponto de vista estritamente filosófico, desvinculando-se de Heidegger.

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Ainda no Existencialismo, surgiu o argelino Albert Camus, com pensamento independente e sem vínculo com corrente política ou filosófica, que em razão disso rompeu com Sartre. Seu primeiro foi romance, O Estrangeiro. Logo após O Mito de Sísifo, onde expôs através da figura mitológica de Sísifo suas inquietações íntimas. Sua obra prima  foi A Peste onde expõe os horrores de uma cidade tomada pela peste bubônica, uma metáfora da colonização francesa na Argélia. Já com A Queda, publicada bem depois e quase simultaneamente com o esmagamento da Hungria pela União Soviética, representa uma desilusão absoluta. Representa para os franceses a desilusão total com o comunismo.

Marguerite Yourcenar foi um caso a parte na literatura francesa. Belga e aristocrata, em 1939 deixou a França para morar nos Estados Unidos e lá desenvolveu estilo literário independente da movimentação política e social da Europa de 1939. Foi a primeira mulher eleita para a Academia Francesa de Letras.

Na década de 30 a França teve também extraordinária fecundidade na fotografia e no cinema. As possibilidades expressivas da fotografia nunca foram tão investigadas; fotógrafos exploravam figuração, abstração, arquitetura e novas técnicas de linguagem. Tal como a música e o teatro, o cinema francês contou com a presença do Estado no financiamento público no exercício dessa arte que  colaborou fortemente com a alta qualidade dessas obras tanto do ponto de vista  estético como cultural. Essa evolução foi marcada também por forte relacionamento dos cineastas com a literatura francesa, resultando na filmagem e exibição das melhores características da produção literária francesa. O primeiro cineasta francês reconhecido internacionalmente foi Jean Renoir, filho do pintor impressionista Pierre-Auguste Renoir. Jean foi um dos antecessores com grande influência na Nouvelle Vague de Godard e Truffaut, já  na década de 50.

Todos os problemas, dores e sofrimentos do período entre guerras influenciaram a estética. O mundo já não era o mesmo.

Entre Guerras

O período de 1918 a 1939, considerado entre guerras, é uma fase dramática na história da Europa. As consequências da Primeira Guerra foram sentidas durante anos por derrotados e vitoriosos que sofreram enormes perdas. Saldo de milhões de mortos, cidades destruídas, economias falidas, conflitos sociais, enfim um conjunto de fatos que  deixou todo o continente em estado de dor, absoluta  dificuldade para reconstruir tudo o que foi arrasado e para recuperar e modernizar o parque industrial com carência de matérias-primas básicas, sem falar no  desemprego e da falta de perspectivas a curto e médio prazos.

Além da falta de estrutura, os longos combates acarretaram  crise financeira de grandes proporções, proporções essas  alavancadas por  gastos militares exorbitantes. A  corrida armamentista instalada na guerra proporcionou forte  desenvolvimento militar com tanques, aviões e bombas enquanto a população se quedava  estarrecida e impotente com a perda de nove milhões de pessoas entre civis e militares com idade entre 20 a 40 anos e  feridos que atingiam a marca de 30 milhões.

Nessas condições de precariedade  e  desamparo o civismo foi abalado e os trabalhadores se rebelaram  passando a exigir seus direitos, motivados, em parte, pela Revolução Russa de 1917 que inspirou o surgimento de movimentos revolucionários pró-socialistas. Os acordos de paz não atingiram os objetivos esperados  e antigas questões de convivência não foram resolvidas, o que abriu espaço para o aparecimento de novas questões. Junte-se a isso outro fato marcante, a  Grande Depressão, motivada pela queda da bolsa de valores de Nova York, que afetou a economia de inúmeros países e agravou mais ainda as tensões sociais e políticas.  Nesse estado de coisas, a criação de novos estados nas Balcãs causava enfrentamentos numa região politicamente jovem, levando a uma situação  propícia à ascensão dos regimes totalitários. Inglaterra e a França concederam direitos sociais aos trabalhadores enquanto na Itália, na Alemanha e na Espanha, o “perigo vermelho” justificou o surgimento dos governos totalitários.

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Para os Estados Unidos a década de 1920 foi marcada por forte crescimento econômico, com o povo desfrutando de inovações tecnológicas como eletrodomésticos, rádio, cinema e vitrola, que se tornavam bens de consumo. Automóveis tomavam as ruas e o transporte aéreo se tornava realidade. Expandiram seus mercados e emergiram como potência mundial, tomando posição de destaque no cenário político e militar  Já para a Rússia, que vinha da Revolução de 1917 quando os bolcheviques liderados por Lênin derrubaram a monarquia czarista prometendo paz, pão, liberdade e trabalho, a Primeira Guerra criou mais desalento e mais desequilíbrio político interno.

A Inglaterra e os Estados Unidos não ofereciam garantias para evitar o rearmamento alemão e a França estabeleceu aliança com a Bélgica e outros países da Europa Oriental na tentativa de obter certa segurança no caso de ataque. A Itália, aliada aos vencedores, frustrou-se com a falta de ganhos materiais e nesse estado de coisas os fascistas ganharam força; sob a liderança de Benito Mussolini,  os fascistas assumiram o poder em 1922 na Marcha sobre Roma.

Ao mesmo tempo, a Alemanha atravessava grave problema. A recémcriada República de Weimar, foi extremamente conturbada e teve curta duração por uma série de motivos, dentre eles a derrota do império alemão, que provocava revolta e ressentimento no povo. A “Lenda da Punhalada pelas Costas” acusava liberais, comunistas, judeus e pacifistas de omissão,  sabotagem e  traição. Como já foi dito,  as condições do Tratado de Versalhes tiraram da Alemanha as condições de se reerguer. Sem um  oitavo de seu território, sem seu império colonial, com exército reduzido e arcando  com grandes indenizações de guerra para os  vencedores,  toda a sociedade se ressentia , a hiperinflação de 1923 só trazia fome e insegurança, enfim, a grande penúria  gerava grandes conflitos e  grupos paramilitares se enfrentavam violentamente nas ruas. Com governo frágil e Inspirados pela Marcha sobre Roma na Itália,   o mais agressivo desses grupos, os “camisas pardas” nazistas promoveram uma espécie de golpe de estado na Baviera, golpe esse que falhou causando a morte de dezesseis pessoas.  Um dos participantes do conflito, o que foi preso por nove meses e aproveitou esse tempo para escrever  livro “Mein Kampf” era Adolf Hitler, que, inteligente, desistiu de tentar tomar o poder pela força e decidiu alcançá-lo pelos meios legais.

Adolf Hitler era membro do Partido dos Trabalhadores Alemães (DAP). Como cabo, foi agente de inteligência e incumbido de infiltrar-se e observar as atividades da organização. Consta que  numa das reuniões  impressionou tanto com sua oratória que logo foi convidado para integrar o partido nazista.  Comunistas e socialistas  juntos detinham a maioria no Congresso mas recusaram-se a formar aliança anti-nazista com os social-democratas;   dessa maneira, em 1932, com a divisão da esquerda e a derrota dos liberais o partido nazista  deteve a maioria e Hitler foi indicado para o cargo de Chanceler. Tornou-e sua principal liderança, conquistou o poder e passou a governar a Alemanha de forma totalitária.

Hitler aboliu direitos, reprimiu políticos, dissolveu o Parlamento, convocou novas eleições,  e no final ganhou plenos poderes. Iniciou a eliminação sistemática da oposição, fechou partidos e sindicatos, prendeu, mandou dissidentes políticos  bem como  qualquer grupo classificado como “sub-humano” como judeus, ciganos, homossexuais para campos de concentração  e mandou assassinar seus opositores. Ridicularizou a arte moderna considerada “judaica-bolchevista”, fechou a Bauhaus, (primeira escola de design do mundo) baniu e destruiu livros considerados semitas ou anti-germânicos. Para ele, os judeus foram  culpados pelas agruras da Alemanha e assim excluiu-os da administração nacional e obrigou os  funcionários públicos a ingressar no partido nazista. Grandes personalidades judaico-alemãs como Albert Einstein, Conrad Veidt e Hannah Arendt partiram para o exílio.

A violência e a repressão atingiam a todos, inclusive  nazistas  adversários. Concomitantemente o regime promulgava leis de segregação racial  e adotava medidas para recuperar a economia, expandia e modernizava as forças armadas, investia na indústria bélica   conduzindo uma   política externa agressiva. Surpreendendo a comunidade internacional, o ministro da economia nazista eliminou a inflação e elevou o país a níveis de  crescimento econômico acelerado, recuperando a nação. Nesse caldo de recuperação e perversidade, em 1939 a Alemanha nazista era responsável por 11% da produção industrial mundial. O povo alemão estava entregue ao nacionalismo e à tutela de Hitler.

Descumprindo o Tratado de Versalhes, Hitler remilitarizou a Renânia, aliou-se ao Japão e à Itália, interveio na Guerra Civil Espanhola e anexou a Áustria à Alemanha. Aproveitando-se da debilidade das nações, seguiu com sua política expansionista e em 1939 invadiu a Polônia desencadeando a Segunda Guerra Mundial.

Primeira Guerra Mundial

Com todas as perdas e humilhações decorrentes da derrota na guerra franco-prussiana, reinava na França  certo revanchismo à espera da oportunidade de reconquista da região da Alsácia-Lorena perdida para Alemanha. A segurança francesa se tornou preocupação constante e nesse meio tempo o governo orientou seus objetivos para a expansão ultramarina estabelecendo o segundo  império colonial em extensão na África e na Ásia, só inferior ao  britânico. Nesse contexto, Inglaterra e França tornavam-se as grandes potências europeias e exploravam diversas colônias ricas em matérias-primas  com grande mercado consumidor. Essa partilha deixou descontentes a Alemanha e a Itália, que ficaram fora do processo neocolonial  e dos bons resultados.

Desde o final do século XIX os países europeus já começavam a fazer alianças políticas e militares e em 1882 a Alemanha, Itália e o Império Austro-Húngaro firmaram a Tríplice Aliança. Por outro lado, a forte disputa comercial entre países  europeus gerou conflitos de interesses entre as nações, o que gerou uma corrida armamentista, prenunciando formas de ataque e defesa.

Reinava um clima de relativo otimismo francês mas, mesmo assim,  em 1894 a França e a Rússia firmaram aliança defensiva de ajuda mútua contra os alemães e austro-húngaros e dez anos mais tarde o temor comum representado pela Alemanha estimulou a França e a Inglaterra a resolver suas diferenças coloniais e iniciar negociações para unificar suas operações militares e navais na Europa. A Inglaterra e a Rússia também resolveram seus problemas e junto com a França e formaram a Tríplice Entende em resposta à Tríplice Aliança.

A sensação de paz aparente estava permeada por constante  estado de alerta e o clima de  normalidade era influenciado por forte  nacionalismo nos países de origem germânica e eslavos. E ocorreu o estopim da deflagração do conflito: o assassinato de Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro durante sua visita a Saravejo (Bósnia-Herzegovina) em 1914. Ele foi morto juntamente com sua mulher por um jovem integrante do grupo sérvio Mão Negra, contrário à influência austro-húngara na região das Balcãs. Diante da tragédia, o Império Austro-Hungaro não aceitou as medidas tomadas contra o crime e declarou guerra à Sérvia.

Os interesses franceses não estavam implicados diretamente na disputa balcânica contra a Áustria-Hungria e Rússia, mas baseados na aliança de defesa mútua, o governo respaldou os interesses do aliado  russo. Declarando apoio à Áustria-Hungria, a Alemanha declarou guerra à Rússia e, após a negativa francesa de neutralidade, declarou também guerra à França. Começou o conflito mais mortal da história até então com mais de nove milhões de mortes. Era o início do fim de uma era de paz.

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A França entrou na Primeira Grande Guerra com  entusiasmo, baseada em sucessivos sucessos científicos, políticos, econômicos, culturais, certa de que o conflito seria fácil e de curta duração. Grande engano! Os jovens  convocados para a luta acatavam a decisão como se fora uma oportunidade de mostrar seu valor, iludidos por um clima de otimismo sem base sólida. Entretanto, se depararam com batalhas desenvolvidas em trincheiras, expostos a intempéries, ratos e fome. Ficavam muitas vezes centenas de dias entrincheirados, lutando por pequenos pedaços de território, sem contar que, despreparados, se deparavam com novas tecnologias de combate, como tanques de guerra e aviões.

Declarada a guerra, os alemães conseguiram chegar a alguns quilômetros  de Paris e bombardearam a cidade primeiro com zepelins e posteriormente com aviões e artilharia de longo alcance. Vale lembrar que em meio a ataques e muitas mortes a capital foi salva de ser invadida em parte pela colaboração dos taxistas que transportaram às pressas soldados para o front.

Como muitos combatentes foram enviados aos campos de batalha, surgiram  lacunas de mão de obra e assim as mulheres foram chamadas para trabalhar nas fábricas e até para guiar bondes. É nesse momento que começa a importação de mão de obra estrangeira, como a chinesa, por exemplo, que até hoje se faz presente na fundação de vários restaurantes em Paris.

A França entrara na guerra com garras e superioridade, mas só conseguiu vitória com a entrada dos Estados Unidos em campo, na questão de rivalidade com o império alemão. Nesse estado de coisas, em 1918, a conjugação das   forças aliadas com a entrada dos Estados Unidos na guerra somado ao esgotamento da maquinaria bélica alemã, permitiu aos aliados ofensiva tal que obrigou o governo alemão a pedir paz. E em 11 de novembro de 1918 a recém República de Weimar aceitou o armistício firmado no Tratado de Versalhes.

Com a paz de volta à Europa, já em 1919 começaram a funcionar as primeiras linhas aéreas comerciais do mundo, ligando Paris a  Londres e a Bruxelas e a  cidade-luz se tornou polo de atração para artistas, cineastas, pintores e escritores do mundo inteiro. Aliviados, todos queriam se encontrar em Paris!

Entretanto, a guerra não se resolveu bem na França. A começar pelo problema interno e agudo da estabilização do franco, que prejudicou diretamente a burguesia dependente de suas economias e que foi o núcleo de apoio social à república.   Mas o pior problema foi que  a França, numa atitude claramente vingativa, impôs uma série de restrições humilhantes à Alemanha com funestas consequências. Uma delas, considerada a pior, foi que  sem o referido Tratado e seu  estoque de crueldades, a alta burguesia industrial e financeira alemã não teria apoiado a ascensão de Adolf Hitler…

Belle Époque

No final do século XIX o êxodo rural, a estabilidade político-econômica, a noção de progresso atrelada ao desenvolvimento industrial, o desenvolvimento das comunicações e da tecnologia, o uso da eletricidade, tudo isso aliado ao crescimento urbano propiciou o surgimento de uma nova cultura francesa de divertimento que ganhou status social. Falamos da Belle Époque, de uma cultura urbana incentivada pelos meios de comunicação e transporte,  um tempo de florescimento do belo, de efervescência cultural,  transformações e avanços científicos,  paz, otimismo e prosperidade econômica  no território francês e nos países europeus mais próximos. Pode ser compreendida como um estado espiritual na história da França que ocorreu  por volta de 1871 até a eclosão da Primeira Guerra Mundial.

Foi um tempo de avanços tecnológicos que se traduziam em novos modos de pensar e viver o cotidiano e onde o cenário cultural fervilhava com o aparecimento do cinema, dos cabarés, do cancan e tudo levava a uma sensação de liberdade. A vida parecia puro entretenimento.   Na literatura, o estilo malicioso e sensual fez escola. Já a moda realçava os contornos femininos com  vestidos com  cintura apertada por cintas elásticas culminando com pregas de tecido que  avolumavam os quadris, além de decotes ousados que revelavam seios comprimidos por corpetes. A extravagância virou moda.

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A mulher, independente de sua classe social, adquiriu nova imagem sensual nem romântica nem naturalmente real, passando a ser vista como consumidora,  alimentando vários nichos de mercado como moda, joias, acessórios, artes decorativas  e maquiagem. Pode-se dizer que aqui se verificou o  processo inicial de emancipação feminina.

A elite intelectual fervilhava. Beaudelaire, Rimbaud, Verlaine, Zola e Anatole France atuavam na poesia e na prosa. A arte de  Toulouse Lautrec rompia com o tradicional. O ousado estilo arquitetônico Art Nouveau de Hector Guimard utilizava ferro forjado, vidro e colunas embelezando o metrô de Paris inaugurado em 1900 e  Émile Gallé encantava a todos com seus vitrais, lembrando-se também do projeto de Henri Deglane para o Grand Palais construído pra a Exposição Universal de Paris de 1900 e sua bela cobertura em aço e vidro .  René Lalique, Eugène Grasset e Alphonse Mucha projetavam o novo gosto feminino na joalheria e nas artes decorativas. Blanche d’Antigny e Liane de Pougy  levavam o público ao delirio na música, na dança e teatro, além de Sarah Bernardt , considerada a maior atriz dramática de seu tempo.

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O surgimento do telégrafo sem fio,  telefone,  cinema ,  bicicleta,  automóvel,  avião e a evolução da ciência deixavam os parisienses extasiados. Paris teve grande visibilidade através das Exposições Universais e em 1900 se tornava o centro produtor e exportador da cultura mundial com seus cafés consertos, balés, operetas, livrarias, teatros e boulevares, sem falar na alta costura que influenciou várias regiões do planeta. O estilo Art Nouveau, a nova arte aplicada à indústria, valorizando o ornamento, cores e curvas sinuosas baseadas em formas elegantes das plantas quebrou a sobriedade da arquitetura de Haussmann;   a torre de Gustave Eiffel construída em ferro e inaugurada em 1889 para ser demolida em vinte anos,  de tão fascinante, resistiu à regra e se tornou símbolo da França.

Um grupo de artistas resolveu romper com as regras vigentes da pintura e criou o Impressionismo, um movimento que não se importava com  temáticas nobres e com o retrato fiel da realidade e sim com  a pintura como  arte em si mesma. Para isso pintavam geralmente ao ar livre, na tentativa de captar a luz e o movimento. Como muitos de seus trabalhos foram mal avaliados no Salão oficial da academia, criaram o Salão dos Recusados que veio a se tornar grande concorrente do salão oficial. Alguns de seus grandes expoentes foram Monet, Manet, Degas, Renoir, Sisley, Pissarro, aqueles que pintaram livremente, romperam com o tradicional e até hoje são respeitados, estudados e levam aos museus de Paris número considerável de turistas e interessados em arte.

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Tantos acontecimentos importantes implicavam numa mudança de comportamento individual e na compreensão do cotidiano. Além disso,  a iluminação a gás nas vias públicas, a inauguração do metrô e o surgimento do bonde inicialmente a vapor e depois elétrico propiciavam o livre acesso das pessoas às ruas à noite. Os cafés-concerto  como o Moulin Rouge e Folies Bergeres com preços acessíveis proporcionavam prazer ao alcance de todos; podia-se comer, beber, falar com amigos, conseguir companhia com uma cortesã ou corista, assistir  peças de teatro, sátiras aos poderes estabelecidos e personagens famosos, recital de poesia, circo, acrobatas, bailarinas, cantores, palhaços, equilibristas, tudo sem ter que esperar o final da apresentação. Tudo era possível. Inclusive a fusão de elementos da cultura erudita com as classes baixas.

Os costumes estavam cada vez mais liberados, elásticos, libertinos. E nesse caldo cultural os franceses não se davam conta da importância e do perigo que a nova nação alemã representava para a hegemonia da Inglaterra e da França na Europa.  Muitas tristezas estavam por vir.

Arte e Pensamento no Século XIX

A partir do século XIX o estatuto da arte na Europa e na França mudou radicalmente. Com novas classes sociais no poder, a burguesia no topo da pirâmide, a emergência da classe média  e o operariado em formação, a arte se tornou livre expressão manifesta e já não era mais preciso um mecenas para financia-la. Dessa maneira, o artista e o intelectual, em todos os  seus patamares e em todas as suas formas de manifestação ganharam um lugar na sociedade para exercer seus ofícios.

No que se refere a escritores, na ficção,  Stendhal  inaugurou o romance com O Vermelho e o Negro (1830) utilizando a ficção e o imaginário para apresentar um grupo social de maneira clara e objetiva. Diplomata do governo de Napoleão e seu embaixador na Itália, voltou-se para o grande público. Seu romance falava de um tempo dos órfãos da era napoleônica, de um tempo onde o idealismo e o heroísmo já não encontravam eco nos corações em formação, ao mesmo tempo em que  deixavam um vácuo escorregadio no caminhar da sociedade. Fiel retrato da sociedade que emergia, O Vermelho e o Negro conta a história de um jovem do povo, inteligente e bem formado, que se tornou tutor dos filhos do prefeito da cidade; quanto mais progredia mais aumentava seu desejo de ascensão social. Nessa obra Stendhal escreve para um público ávido de conhecer a si mesmo. Foi um enorme sucesso popular.

Honoré de Balzac, cronista do século XIX, publicou sua obra em folhetim. Pensador e escritor com tendências socialistas, publicou cerca de vinte mil páginas relatando tudo o que a burguesia vivera e iria viver, transformando a matéria bruta da realidade cotidiana em matéria de leitura agradável. Seu discípulo foi Émile Zola, o narrador das dores do operariado que com seu legado inspirou a possibilidade de transformação do meio social.

Gustave  Flaubert em 1857 levou a literatura francesa ao nível da perfeição com sua obra Madame Bovary onde trabalhou com grande minúcia, preocupando-se com junção de frases, escolha de vocábulos, pontuação, termos verbais, tudo para proporcionar  eficácia da mensagem pretendida. Seu discípulo foi o contista Guy de Maupassant.

Victor Hugo, poeta, filósofo, panfletista, jornalista e romancista, foi um gênio do século XIX. Anotou toda sua vida, desde a adolescência e deixou três obras primas: Os Miseráveis, Notre Dame de Paris e Cromwell. Suas obras tinham como protagonistas o povo oprimido  e chegou a escrever uma peça teatral, Ernani, fundando o Romantismo francês. Ativista político, exilado quando jovem e aclamado pelo povo, sua influência na França foi tamanha que seu funeral levou às ruas o segundo maior número de pessoas da história do país.

Chateaubriand, aristocrata, católico, escreveu O Gênio do Cristianismo propondo resgate do cristianismo tão maltratado pelas monarquias absolutas e mal administrado pelas elites europeias, ancorado nas tradições populares. Outra obra célebre, Memórias do Além Túmulo  narra com maestria memórias de sua vida infeliz.

Alexandre Dumas, filho do   grande herói da Revolução Francesa general Dumas e pai do  também escritor e dramaturgo Alexandre Dumas Filho, escreveu dois grandes romances: O Conde de Monte Cristo e Os Três Mosqueteiros, este último propondo uma França heroica e dona de si.

Marcel Proust, aristocrata, com alto nível de erudição e profunda cultura musical, fez uma obra monumental, matematicamente calculada e publicada em sete volumes: Em Busca do Tempo Perdido. Um trabalho com contexto histórico e cultural e estrutura musical que reconstrói no último volume o tempo do primeiro, concluindo assim da mesma maneira como iniciou, tal como uma peça musical concebida de maneira cíclica. Concentrou em sete volumes tamanha quantidade de informação memorialista, histórica, política, social e estética que representou a consumação da civilização francesa e seu esforço para instituir a cultura como elemento  distintivo da nação. É contemporâneo de Freud, um austríaco, sem nunca tê-lo conhecido, mas sua obra tem presente os requisitos que contribuem para as descobertas psicanalíticas de Freud.  Foi respeitado até por  Hitler,  que poupou a queima de suas obras.

A poesia se fez presente com grandes expoentes tal como Rimbaud, amante de Verlaine, o poeta da metáfora escandalosa, que escreveu em forma de poema Uma temporada no Inferno e Iluminações. Foi o precursor do surrealismo.

Mallarmé, simbolista, convidava o leitor a ver como o poema via a si mesmo,  pretendendo mostrar a essência da poesia; obras de difícil assimilação, dispensavam o entendimento para convidar apenas para ouvir sua musicalidade.

Charles Beadelaire, pela primeira vez, inseriu na poesia o tema da vida cotidiana, já existente na prosa. Em sua grande obra  As Flores do Mal utilizou a forma clássica do soneto para escrever sobre a vida nas ruas das prostitutas, das doenças e males do dia a dia parisiense. Com isso, introduziu  palavras até então desconhecidas, abrindo caminho para a poesia moderna e contemporânea.

Na pintura surgiu um novo movimento, o Impressionismo, que rompeu com a arte clássica de salão privilegiando a visão e o sentimento do instante. Seus expoentes Renoir, Monet, Manet, Pissaro, Berthe Morisot e tantos outros que até hoje povoam nossos sonhos e enfeitam com suas gravuras e reproduções  muitos lares e ambientes de deleite. Já Eugène Delacroix, o grande pintor francês cuja obra mais famosa é símbolo da França, A Liberdade Guiando o Povo, inspirou Gustave Courbet, o precursor do modernismo.

Na música, Hector Berlioz ampliou a orquestra sinfônica com a Sinfonia Fantástica antes mesmo de Wagner tê-lo feito. Outros grandes nomes, embora de outras origens tais como Fréderic Chopin, polonês e Franz Liszt húngaro, desenvolveram suas artes em Paris e lá se tornaram fundamentalmente importantes no cenário mundial.

Quanto às ideias que transformariam a visão do mundo, Proudhon  colocou o anarquismo na pauta, Auguste Comte criou o Positivismo e Karl Marx fundou o marxismo e junto com Engels escreveu o Manifesto Comunista.

Não é pouca coisa. A França, mais precisamente Paris, encerrou o século XIX num patamar  cultural inigualável e até hoje norteia nossas pesquisas e nossa procura pelo saber.

 

Restauração

A derrota do império napoleônico em 1815 na Batalha de Waterloo abriu caminho para que potências estrangeiras que ocuparam Paris restabelecessem a dinastia dos Bourbons. Luis XVIII, irmão de Luis XVI – o rei decapitado, foi escolhido para ocupar o trono. Ele tentou garantir o cumprimento da Constituição de 1814 que estabelecia monarquia parlamentar e  reformas sociais expressas nos códigos de leis napoleônicos num regime representativo mas não democrático. Reinou até morrer em dezembro de 1824.

O  sucessor de Luis XVIII foi seu irmão Carlos X, autoritário e mal adaptado ao regime constitucional. Promulgou uma série de decretos para convocar novas eleições, reduzir o número de eleitores e restringir a liberdade de imprensa. O descontentamento dos franceses com o governo autoritário de Carlos X provocou a revolução de julho de 1830 com barricadas em todos os cantos de Paris. Com a vitória dos insurgentes os monarcas moderados afastaram o rei, que foi obrigado a abdicar. Foi o último rei da dinastia dos Bourbons.

O trono foi oferecido ao Duque de Órleans, apresentado ao povo como “príncipe devotado à causa da Revolução” que  assumiu o trono como Luis Felipe I . Foi a chamada Monarquia de Julho, dominada por banqueiros, homens de negócios e proprietários de terra beneficiando a alta burguesia. Sob esse governo Paris vivia em constante estado de ebulição e rebelião. Os bairros pobres continuavam imundos, superpovoados e insalubres, o que favoreceu  a epidemia de cólera de 1832. A agitação revolucionária intensificava-se cada vez mais ruas estreitas com barricadas  que as tropas do governo não conseguiam  conter. Diferentes facções promoviam manifestações violentas  e participavam de complôs para matar Luis Felipe, enfim um tumulto generalizado que só teve uma pequena trégua com a  iluminação da Place de La Concorde e a inauguração da estrada de ferro Paris-Rouen. Mas a insatisfação popular não se acalmou, ao contrário, deflagrou outra revolução: a de 1848, quando a Segunda República foi proclamada.A partir daí o regime era presidencialista e unicameral.

Luis Napoleão, sobrinho de Bonaparte, foi  eleito presidente por maioria, mas os monarquistas eram contrários à República. Após quatro anos de governo ele deu golpe de Estado, restaurou o Império e assumiu com o título de Napoleão III. No início desse império, Paris, já com um milhão de habitantes,  continuava sendo foco permanente de oposição em suas ruelas medievais cheias de cortiços. Por iniciativa do imperador a capital francesa passou por outra revolução: a urbanística, chefiada com mãos de ferro pelo Barão Haussmann. Ele  transformou a cidade arrasando velhos bairros medievais, abrindo largas avenidas e bulevares, impondo  largura mínima de 20 metros nas novas ruas para que um batalhão pudesse se posicionar se necessário. Haussmann mandou construir prédios em estilo padronizado com no máximo 25 metros de altura, criou teatros, hospitais, parques, jardins como Buttes-Chaumont e Montsouris, embelezou o Bois de Vincennes e o Bois de Bologne além de implementar completo sistema de água encanada e esgoto para as ruas. Surgiram os famosos cafés e bistrôs. Paris se tornou numa metrópole moderna, charmosa e elegante.

A modernização de Haussmann esbarrou numa divisão acentuada entre ricos e pobres. O surgimento do elevador polarizou mais ainda a situação e os mais carentes foram praticamente expulsos de Paris para os subúrbios. Mas as coisas se acomodavam e Paris vivia com mais tranquilidade, até que em 1870 Napoleão III resolveu entrar  numa desastrada guerra contra a Prússia sem o devido preparo da França. Com o fracasso, o imperador foi preso, os franceses indignados não aceitaram a rendição e proclamaram novamente a República.

O novo governo foi liderado pelo general Trochu, que não conseguiu deter Bismarck, o comandante prussiano, que sitiou Paris por penosos meses, forçando a rendição pela fome e dificuldades de toda ordem. Como o transporte de Paris era feito por tração animal, Bismarck mandou sacrificar cavalos e burros, depois gatos, cães e ratos que passaram a ser mortos e vendidos em mercado, além dos animais dos zoológicos Jardin de Plantes e Jardin d’Acclimatation. Sem meios de deixar a cidade, os parisienses, famintos, finalmente, em janeiro de 1871 afastaram Trochu e  novo governo com sede em Versalhes concluiu um armistício. Pelo acordo, a França comprometeu-se a pagar indenizações de guerra e perdeu a maior parte da Alsácia-Lorena.

Adolphe Thiers assumiu o governo em meio a grande insatisfação popular com os termos do armistício, as  péssimas condições de trabalho dos operários, e a tentativa de aumento de impostos para saldar dívidas da guerra franco-prussiana. Em meio a esse clima tenso nova revolução estourou derrubando o governo republicano. Instalou-se a Comuna de Paris constituída por jacobinos, anarquistas e socialistas que tinham como meta principal autogestão das fábricas e melhoria das condições de vida e de trabalho dos operários. Essa tentativa de governo socialista com base operária também foi experimentada em Lion, Marselha, Toulouse. Thiers, apoiado pela alta burguesia conseguiu dominar a Comuna, mandando fuzilar milhares de insurgentes. Novamente Paris foi depredada, muitos de seus prédios públicos incendiados e regiões populares arrasadas.

Comuna-de-Paris

Depois de tanta tempestade, a capital foi lentamente voltando ao ritmo normal e a reconstrução trouxe consigo urbanização de novos bairros e edificação de belos edifícios. O movimento popular também foi se reorganizando e já em 1876 aconteceu o primeiro congresso operário de Paris.

Nesses tempos, novas possibilidades  tornavam a cidade charmosa e moderna.  Opéra foi inaugurada, os parisienses deslumbravam-se com a eletricidade que permitiu o surgimento de  bondes elétricos e iluminação dos grandes bulevares, surgiu o telefone. Conforto doméstico e higiene também se tornaram possíveis com a possibilidade de água encanada e pode-se dizer que o final do século trouxe a Paris uma trégua agradável e quase serena.

Napoleão Bonaparte

O menino corso inteligente e político nato era filho de descendentes da nobreza italiana. Seu  pai Carlo Maria foi representante  da Córsega em 1777 na corte de Luis XVI e sua mãe    Letícia foi  forte o suficiente para criar seus sete filhos e  educar o mais indisciplinado deles. Esse filho conseguiu destaque por onde passou e ao longo do tempo transformou os destinos da França.

Nasceu em 1769 e já em 1779 estava matriculado numa escola de ensino rigoroso onde aprendeu francês e logo entrou para a academia militar. Como falava francês com sotaque italiano e sem conseguir soletrar, era provocado pelos colegas. Para superar sua fragilidade,dedicou-se  à literatura,  matemática, história e geografia. Em 1784, ao completar seus estudos, entrou para a Escola Militar de Paris onde estudou para se tornar oficial de artilharia. Formado em 1785, tornou-se segundo tenente e serviu em Valence e Auxonne até a eclosão da Revolução Francesa. E aí a história de Napoleão Bonaparte dá uma guinada.

Ainda na Córsega, Napoleão se envolveu em lutas entre realistas, revolucionários e nacionalistas corsos, apoiando os jacobinos franceses. Já tenente-coronel, comandou voluntários e seu desempenho foi tamanho que em 1792 foi promovido a capitão, agora em Paris. Angariou a simpatia dos irmãos Robespierre. Sempre pretendendo destaque, mas lutando como poucos, foi conquistando espaço e apoio dos poderosos  e rapidamente foi nomeado comandante de artilharia das forças republicanas no cerco de Toulon, cidade que se rebelou contra as forças republicanas e foi ocupada por tropas britânicas. Ele obrigou as forças inglesas a evacuar, foi baleado na coxa, capturou a cidade, e assim foi promovido a general de brigada e encarregado da artilharia do exército francês na Itália.

Em 1794, com a morte de Robespierre, ficou em prisão domiciliar por sua associação com o Terror, mas aí suas habilidades já despertavam o respeito dos militares e foi convidado a elaborar planos para atacar as posições italianas na guerra da França com a Áustria e a participar de uma expedição de retomada da Córsega dos britânicos. Só que seu exército foi derrotado pela marinha britânica… e a antipatia pela Inglaterra só aumentava…

Bonaparte insurgia-se contra situações onde não via oportunidade de sucesso e com isso chegou a enfrentar crise  financeira e redução de  expectativas de carreira. Entretanto, num tempo em que monarquistas rebelavam-se contra a Convenção Nacional, suas façanhas em Toulon chegaram aos ouvidos de Paul Barras, o líder do Diretório, que lhe deu o comando das forças militares em defesa da Convenção. Ele venceu os monarquistas e o fato lhe deu fama repentina, riqueza, e apoio do Diretório.

Os caminhos estavam abertos. Noivo de Desirée, a bela herdeira de ricos comerciantes de Marselha, Bonaparte rompeu o noivado e  casou-se louco de paixão  com a influente  Josefina de Beauharnais, ex-amante de Paul Barras. A partir daí, no comando do exército francês, liderou, invadiu, conquistou, saqueou, quis marchar contra o Vaticano e destronar o papa, deixou a Europa em estado de choque. Circulava com desenvoltura  na política francesa, fundou jornais, foi eleito membro da Academia Francesa de Ciências, numa expedição vitoriosa ao Egito acompanhado por cientistas, matemáticos, naturalistas, químicos, conseguiu encontrar a Pedra de Rosetta e com tantas façanhas bem planejadas já era visto como possível ditador. Em 1799 liderou um golpe de Estado , o 18 Brumário, instituiu o Consulado  e sagrou-se primeiro cônsul. Foi sua ascensão ao poder.

A França realizou um plebiscito em 1804 que resultou na aprovação da era napoleônica. A partir daí  o poder monárquico foi restituído no país  e Napoleão foi indicado para ocupar o trono. A coroação aconteceu na catedral Notre Dame, onde ele ousou impedir que o papa Pio VII o coroasse, coroando-se ele próprio e depois coroando sua mulher Josefina,deixando claro que não toleraria autoridade alguma superior a ele. Tornara-se um déspota.

Observando a história, entendemos que Napoleão Bonaparte representou em si próprio a consagração da Revolução Francesa e foi o chefe militar que o país esperava. Homem de grande cultura, reorganizou o arruinado exército francês  transformando  soldados em heróis  – Grande Armée -, governou por conta própria por dez anos. Obteve grande número de vitórias militares, sendo a mais significativa  contra o Império Austro-Húngaro. Além disso, realizou importantes reformas na área pública da saúde e da educação, reorganizou a Bolsa de Paris, criou o Código Napoleônico que é o conjunto de leis inspiradas na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão que influenciam a França até hoje, criou o Banco da França, recuperou Paris que fora dilacerada na Revolução e lá mandou construir as pontes de Austerlitz, Saint Louis e de Arts, mas em contrapartida reimplantou a escravidão nas colônias por considera-la necessária à economia local. Tal como Clovis, Carlos Magno, Luiz IX, Francisco I, Luis XIII e Luis XIV, representou para a França um divisor de águas.

Em 1805 os franceses usaram a marinha para atacar a Inglaterra, mas foram  derrotados pelos ingleses na célebre Batalha de Trafalgar comandada pelo almirante Nelson. Buscando outras maneiras de derrotar a Inglaterra, em 1806  Napoleão decretou o Bloqueio Continental que determinava que todos os países europeus deveriam fechar os portos ao comércio com a Inglaterra. Foi aí, inclusive,  que  D. João VI rei de Portugal, dependente e ligado à Inglaterra, optou por transferir o poder para sua maior colônia – o Brasil, deixando Portugal à deriva porém enganando o próprio Napoleão.

Na época do Império, Bonaparte realizou uma série de batalhas conquistando novos territórios para a França e em torno de 1812 toda a Europa Ocidental e grande parte da Europa Oriental eram ocupadas por ele. Concedeu títulos nobiliárquicos aos seus familiares, colocou-os em altos postos públicos, formou nova corte com membros da elite militar, da alta burguesia e da antiga nobreza. Construiu monumentos grandiosos para festejar seus feitos como o Arco do Triunfo, e com grandiosidade e criação de novos empregos mantinha sua imagem em alta. O homem forte da república tornou-se o nobre mais poderoso da Europa. Precisava de um herdeiro: prático, dispensou Josefina que não conseguia engravidar e casou-se com Maria Luisa da Áustria, que lhe deu um filho – Napoleão II.

Até que em 1812 Alexandre I da Rússia rompeu o bloqueio contra os ingleses e  em represália Bonaparte invadiu a Rússia, onde foi vencido pelo inverno russo. Na volta dessa derrota foi derrotado mais uma vez  na Batalha das Nações e obrigado a abdicar. Em 1814 exilou-se na ilha de Elba, de onde escapou em 1815 e reconquistou o poder por cem dias. Entretanto, entrou em conflito com os republicanos e tendo que enfrentar a coligação anglo-prussiana na Batalha de Waterloo, foi novamente derrotado e abdicou pela segunda vez. Foi seu fim e o fim de uma época.

Preso e exilado pelos ingleses na Ilha de Santa Helena, seu séquito ficou reduzido a poucos seguidores que ouviam suas críticas contra aqueles que o capturaram. Sem família e sem poder, ocupava o tempo escrevendo memórias. E foi numa prisão inglesa que essa figura histórica ambígua, de um lado símbolo do orgulho nacional e de outro  sinônimo de agressão, ocupação e destruição, o homem mais poderoso da Europa,  morreu derrotado pela Inglaterra  em  5 de maio de 1821. Seu filho, Napoleão II, morreu cedo e jamais governou.

Cultura e Luzes

No período monárquico  a França assumiu sua identidade cultural com o surgimento de grandes figuras do cenário intelectual que se consolidaram ora com o beneplácito dos monarcas, ora enfrentando-os . Três escritores e dois homens de teatro consolidaram, cada um a sua maneira, a língua e o pensamento francês. René Descartes (1596-1650) correspondeu na filosofia a Galileu na ciência. Pensador puro, estabeleceu o famoso princípio “penso, logo existo” colocando a razão e não Deus no centro do pensamento filosófico. A partir dele, ocorreu uma espécie de gesto de abolição de qualquer vínculo do pensamento com o que estava fora de sua atividade. Deus passou a existir a partir do pensamento do homem. Descartes fundou a filosofia moderna num tempo em que  cientistas como Kepler e Galileu faziam com que o homem mudasse sua relação com o universo e consigo mesmo.

Michel de Montaigne (1533-1592), humanista, jurista, a princípio sem pretensões literárias ou filosóficas, desenvolveu o ensaio, um novo gênero de prosa. Analisando as instituições e os costumes da época, dominou e expandiu a língua francesa escrevendo sobre qualquer assunto que fosse comum aos homens. Dessa maneira, transformou o simples ato de observar o cotidiano dos protagonistas em obras primas da literatura.

Blaise Pascal (1623 – 1662),  matemático, astrônomo, filósofo e teólogo inicialmente produziu obras voltadas para geometria e teoria das probabilidades. Mais tarde, voltado para a teologia,  introduziu a angústia –  a inquietação – como elemento central e essencial na filosofia. Para ele, são dois os tipos de pessoas: as dotadas do espírito do geômetra, que reduzem tudo ao estado puro, e aquelas  dotadas do espírito da finura,  que não evitam a angustia. Estas, segundo seus princípios, são  as que mais lhe interessavam, já que para ele seria impossível ao homem conhecer sua grandeza sem conhecer sua miséria.

O teatro francês representou um avanço artístico na figura de dois nomes: Jean Racine (1639-1699) e Molière 1622-1673).Racine, trágico, levou a arte à corte com suas tragédias, relatando os impasses da vida aristocrática e incorporando nelas a  língua teatral. Molière, cômico, colocou a linguagem popular no texto teatral , incorporando no drama o modo peculiar da fala francesa. Com seus métodos, ambos deram valor central à língua, com o cuidado de fazer com que o corpo indicasse o sentido do falar. A partir daí, Luis XIV decretou a fundação da Comédie Française.

Era um tempo em que  a França estava segura. Poderosa e influente na Europa, influenciou inclusive o império russo, que adotou em sua corte a língua e os  costumes  franceses. Sem depender do Vaticano, sem se incomodar com a irracionalidade do poder da Espanha nem com o Canal da Mancha, a França já tinha a Normandia incorporada ao seu território. Na pintura, Jean Honoré Fragonard produzia arte erotizada. E surgiu o primeiro romance escrito por Madame de Lafayette (1634-1693) que em vez de se interessar por problemas domésticos, resolveu escrever um enredo onde uma personagem feminina, a Princesa de Clèves, aniquilada entre a razão e a paixão, representava  a síntese dos pensamentos de Descartes e Pascal. Uma ousadia francesa.  Paris ganhava status de centro do mundo.

Mas nem tudo caminhava bem.  Nesse tempo a Europa passava por uma fase de grandes avanços científicos e esses reflexos acabaram por influenciar as manifestações filosóficas e literárias na França. Os monarcas do tempo posterior ao apogeu cultural levaram o país a grande crise financeira  provocada por reiterados erros administrativos que desencadearam a penúria popular, enquanto a nobreza continuava a manter seus luxos. Com a nova visão de mundo e a atuação dos intelectuais surge o Iluminismo, uma nova escola onde a razão, e não mais a fé em dogmas pré-estabelecidos, passa a vigorar no pensamento. Com isso, foram derrubados todos os pilares de então. A partir da razão, do sofrimento, da cultura , da comunicação e do entendimento vislumbrou-se a possibilidade de mudança de rumos e dessa maneira foi-se firmando uma nova força que emanava das pessoas comuns, ao mesmo tempo em que a  monarquia absolutista se encaminhava para o fim.

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A intelectualidade francesa ganhou força  com o surgimento da Enciclopédia, com seus  dezessete volumes de informações filosóficas e científicas publicadas entre 1751 a 1772. Elaborada pelo filósofo e escritor  Denis Diderot, interessado pela parte humanística, e pelo filósofo e cientista Jean Le Rond d’Alembert, este responsável pela parte científico-matemática,  privilegiava o uso da razão em detrimento dos dogmas da Igreja. Nela atuaram intelectuais de peso, como o perspicaz e espirituoso  Voltaire que defendia, apesar da censura e das prisões, a reforma social, criticando abertamente a Igreja e as instituições francesas;   Montesquieu que com sua famosa obra O Espírito das Leis, em 1748,  defendia um sistema de governo constitucional, a separação dos poderes, a preservação das liberdades civis, a manutenção das leis e o fim da escravidão. Esses valores e esses ideais causavam grande impacto na população, somados ao  Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens em 1755 e Contrato Social em 1762 de Jean Jacques Rousseau. Estava formada a fonte  de inspiração ideológica para todos aqueles que desejavam o fim do Absolutismo. A sociedade compreendeu que poderia se posicionar e ajudar a mudar as regras do jogo.

Revolução Francesa

Como já vimos anteriormente, num primeiro momento, o que se pretendia eram reformas com abolição de privilégios da nobreza e do clero e o fim do Absolutismo. Entretanto,   os intelectuais franceses observavam o que se passava na Inglaterra e decidiram transformar a Revolução Industrial na Revolução Francesa, com uma grande diferença:  a  destruição completa da monarquia. Num ato simbólico, tomaram a Bastilha e deflagraram um momento sem paralelo no entendimento do poder na Europa. A  condenação dos soberanos e o posicionamento dos intelectuais e representantes do povo mexeram com as instituições vigentes e colocaram em pauta novos valores calcados, agora, nos direitos do cidadão. O entendimento da política era outro.

Entretanto, ao contrário da Inglaterra, a França não possuía classe média intermediária entre os revolucionários e o povo, interessada no progresso, no desenvolvimento e na educação. Dessa maneira, não tinham a indicação de um nome para  liderar a transição de governo e até a possível proclamação da República, seguindo os escritos de Montesquieu. Desorganizados e derrotados nas primeiras batalhas, os revolucionários mobilizaram o país, aceleraram a fabricação de armas e um frenesi patriótico tomou conta da França. Folhetos eram distribuídos,  cartazes eram colocados em praças públicas convocando a população.

Nesse clima surgiu a radicalização com os jacobinos – a ala mais inflamada dos revolucionários, que aproveitaram o desgoverno para liquidar os moderados girondinos. Radicais como Danton, Marat e Robespierre assumiram a liderança da revolução. Castelos e igrejas foram demolidos , incendiados e depredados arruinando boa parte do patrimônio histórico do país. Posteriormente, o excesso aumentou e qualquer um passou a ser suspeito de traição. Em média, cinquenta pessoas eram guilhotinadas por dia. Era o Terror. A Revolução, grande inspiradora da liberdade, paradoxalmente transformara a França num estado de injustiça e de medo. Nos julgamentos, por exemplo, o acusado não tinha direito a defesa e oitiva de testemunhas, isto  porque os radicais que atuavam como jurados seriam capazes de dar um veredicto justo sem ouvir qualquer defesa… mas o veredicto, normalmente, era a condenação.

Os motivos revolucionários tornaram-se dominantes inclusive com  obras de Jean Baptiste Greuze, Watteau de Lille e Jacques Luis David, que  pintavam quadros impregnados de mensagens patrióticas. Todos eram patrulhados a todo tempo até  que Danton e Desmoulins, que apoiavam o terror, denunciaram os excessos e terminaram condenados à guilhotina. Marat, que sofria de psoríase e conseguia se aliviar numa banheira de água fria, foi morto por Charlotte Corday – partidária dos girondinos e indignada com os atos do Terror – em pleno banho.

Pouco a pouco o restante das lideranças foi-se desfigurando, uma vez que cada facção que chegava ao poder mandava aniquilar os rivais.Nesse estado de coisas,  Robespierre insistia em manter o Terror e a cada momento acusava seus companheiros de traição. Suas sugestões eram prontamente atendidas por burocratas obedientes e a cada momento companheiros eram acusados.  Qualquer protesto era considerado contra-revolucionário. Para se ter ideia, entre 11 de junho e 27 de julho de 1794, 3.176 pessoas foram guilhotinadas, dentre elas cidadãos comuns como costureiras, padeiros, pedreiros. Com os parisienses cada vez mais horrorizados, finalmente o próprio Robespierre acabou sendo guilhotinado e com isso estava extinto o Terror.

A Revolução Francesa, com todos os seus percalços e injustiças consagrou o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” que norteia a democracia de vários povos. Nas artes deu ao mundo A Marselhesa, um hino considerado o mais belo e emblemático do Ocidente.