Desenvolvimento da Civilização Francesa

Carlos Magno representou um  momento  importantíssimo na construção da civilização francesa. Consolidou o sistema feudal e sob seu poder, a agricultura, o comércio e a economia elevaram o cenário  de prosperidade da região. Com o estabelecimento da educação formal nos colégios teológicos, dentro dos mosteiros,desenvolveu a cultura,  configurando a característica primeira da civilização francesa, que é o diálogo entre o poder e o povo.

No começo do século IX Paris se expandia nos dois lados do Sena. Entretanto, tal prosperidade se tornou objeto de cobiça e ataque dos normandos e os herdeiros de Carlos Magno não souberam dar continuidade ao seu legado, tampouco administrar o reinado.

Por volta do ano 1000 Paris era tão suja e desprotegida , que os detritos eram jogados nas ruas e o mal cheiro era insuportável. A cidade foi deixada à própria sorte e sujeita ao ataque dos normandos que subiam o Sena e praticavam toda espécie de pilhagem. Nessa época, Paris foi tão desrespeitada ,invadida e pilhada que se limitou à Île de La Cité. Os normandos, depois de muitas lutas,  só deram trégua quando parte da França foi-lhes concedida. Conseguiram parte do norte da França, o que hoje chamamos de  Normandia.

A França, nesse tempo, era composta por vários ducados reunidos sob a tutela de um herdeiro de rico nobre francês: Hugo Capeto,  que foi eleito rei. Com a dinastia dos capetos houve a retomada de Paris, mais atenção, e consequentemente um  desenvolvimento comercial e urbano; a partir daí os monarcas puderam administrar uma região mais próspera graças à nova rédea, ao comercio fluvial e aos  impostos recolhidos.

A seguir, com o reinado de  Felipe Augusto, Paris se tornou um dos principais centros comerciais e culturais da era medieval. Felipe mandou construir a muralha de proteção da cidade, a fortaleza do Louvre, o mercado Les Halles, além de mandar asfaltar a cidade para acabar com o mau cheiro. Em 1163 começou a construção da catedral Notre Dame.

Seguindo a tradição de Carlos Magno, o ensino continuava ministrado por renomados  religiosos. A catedral Notre Dame, mesmo inacabada, começou a receber alunos, muitos alunos, o que fez com que  ela sozinha se tornasse insuficiente para atender a demanda. Dessa maneira, o clero autorizou que competentes  professores particulares abrissem escolas ao redor da catedral. Assim surgiu a Universidade de Paris – um conjunto de mestres e estudantes congregados na mesma escola e ligados pelos mesmos interesses culturais. Entretanto, esses mestres eram nomeados pelo bispo que também controlava o ensino. Dessa maneira, provavelmente insatisfeitos, os mestres resolveram se reunir e se associar numa corporação, a “Universitas”, que chamaríamos hoje de sindicato dos mestres. Foi da sua representação perante a Igreja e o governo  que surgiu a figura do reitor, e das novas necessidades tanto  disciplinares como  práticas   surgiram as escolas maiores –  faculdades ou colégios -, sempre ao redor da catedral Notre Dame de Paris. O mais famoso colégio de Paris foi fundado pelo teólogo Sorbon em 1257 e se tornou palco de grandes estudos e debates teológicos a ponto de tornar a Sorbone quase sinônimo da Universidade de Paris.

sorbonne

Esse centro de estudos ficou dividido em quatro faculdades: Teologia, Direito Canônico, Medicina e Artes. Recebeu Abelardo, o grande intelectual da Idade Média, que  ensinou  e com sua fama atraiu  milhares de estudantes, e as ordens Dominicana e Franciscana com seus ensinamentos teológicos da cultura. Também lecionaram lá Alexandre de Hales, São Boaventura, Santo Alberto Magno e o grande São Tomás de Aquino.

A São Tomás de Aquino deve-se a Suma Teológica,  maior exemplo da escolástica. Por escolástica entende-se o método de conciliar a fé cristã com o pensamento racional. Explico: o método desenvolvido por Tomás de Aquino e acadêmicos das escolas medievais  ousava discutir e responder às exigências da fé e do pensamento conservador de Santo Agostinho, que subordinava a razão  à fé ensinada nas Igrejas, em vigor  em toda a Europa. Tomás de Aquino introduziu o aprofundamento da filosofia na fé, conciliando as teorias de Platão e Aristóteles com os valores espirituais cristãos. A partir daí,  tudo foi reinterpretado pelo ocidente cristão. Não é pouco. Foi nesse caldo acadêmico que se vislumbrou a possibilidade de o homem pensar levando em conta vários fatores e não só os pregados nos ofícios religiosos. Mais tarde, o preço a ser pago foi alto, mas a semente do livre pensar estava semeada nos limites da Universidade de Paris.

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