Reação e Nova Queda com Problemas Religiosos

Apesar da evolução do saber iniciada na Sorbonne no século XIII, a França permaneceu  arruinada, desorientada e sem capacidade de se firmar como grande nação após longo período de turbulências. Mas em meados do século XVI um militar engenhoso, carismático e líder popular venceu os alemães do sul na Batalha de Marignan e se impôs como rei Francisco I. Resgatou o prazer de se governar um pais e entendeu que para  reergue-lo seria necessário  manter o poder militar unido, reconstruir a economia e fazer alianças estratégicas inclusive com protestantes, sem deixar de dar continuidade à educação e à cultura iniciadas por Carlos Magno nos colégios teológicos. Primeiro rei absolutista da França, Francisco I substituiu o francês pelo latim nos documentos oficiais, escolheu Paris como sede do governo  e  para isso mandou Pierre Lescot derrubar a antiga torre medieval do Louvre e em seu lugar  construir um palácio digno de receber um rei; também mandou construir a nova sede da prefeitura, o Hôtel de Ville, e ambas as construções se tornaram obras primas da arquitetura renascentista.

Francisco I mandou vir para a França o artista  italiano Leonardo da Vinci para projetar o castelo de Chambord, com quem manteve amizade até a morte de Leonardo, em seus braços. Atraiu para a corte artistas e poetas como Rebelais, o autor de obras satíricas como Pantagruel e Gargântua, iniciando aí o hábito de manter a arte, mesmo crítica, junto aos reis e à corte, e esse foi um dos fatos geradores do fim dos menestréis e dos trovadores que erravam pelas cidades desde o século XII. Esse período de apogeu cultural da nação francesa se consolidou ao longo do século XVI com Henrique II, Henrique III e Henrique IV.

Tudo transcorria com relativa tranquilidade quando um fato irrompeu trazendo nova e profunda turbulência: a Reforma Protestante. Martinho Lutero, germânico, monge agostiniano e professor de teologia, insatisfeito com os alguns dogmas da igreja católica, mais precisamente com o comércio de indulgências,  escreveu suas famosas teses em 1517, as quais  foram condenadas pela Sorbonne em 1521. A reforma proposta era, acima de tudo,  um manifesto de cunho econômico, político e social, já que Lutero pregava a independência do poder de Roma. Baseado em seus postulados,  divulgou as escrituras sagradas, criou escolas dominicais onde as crianças eram alfabetizadas, e, o mais importante, traduziu a Bíblia para o alemão formando assim a língua alemã num momento em que Gutemberg inventava a imprensa; dessa maneira Lutero pode divulgar e possibilitar a leitura das Escrituras por qualquer cidadão em família, conseguindo assim maior amplitude da Reforma  e libertando os fiéis do jugo da  Igreja. Esta, indignada, exigiu retratação e diante de sua recusa  em retratar-se, excomungou-o. Carlos V, o imperador do Sacro Império Romano Germânico, condenou-o.

A Reforma Protestante representou um grande divisor de águas na França. Se por um lado o país  vinha enfrentando há muito tempo problemas com o Vaticano, por outro grande parte dos burgueses franceses aderiram à Reforma, o que lhes a possibilitava liberdade do controle do Estado e de suas relações com o Vaticano. Calvino, líder protestante, causava distúrbios de ordem religiosa que abalavam a nação francesa. Surgem os huguenotes protestantes – grupo de burgueses com maiores possibilidades econômicas e sociais, perfeitos para se tornarem bodes expiatórios numa situação miserável de um povo ignorante e manipulado pelo clero.

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No outro extremo da questão, Catarina de Médici, italiana, viúva do rei  Henrique II e mãe do futuro rei  Carlos IX não via com bons olhos a influência de setores protestantes da nobreza sobre seu filho. Ardilosa, nas festas do casamento de sua filha Marguerite de Valois, a famosa rainha Margot, com o protestante Henrique de Navarra, simulou aproximação entre católicos e protestantes  mas na verdade o que tinha em mente era a autorização do filho para o massacre dos huguenotes, fato que ocorreu na madrugada de 24 de agosto de 1572. Cerca de dois mil protestantes foram assassinados em Paris na terrivel  Noite de São Bartolomeu.

O que Catarina não imaginava é que mortos seus quatro filhos varões e sem mais herdeiros homens, a coroa passasse para o legítimo sucessor, Henrique de Navarra, seu genro protestante. Era a França, com sacrifícios, encontrando novo caminho na história.

 

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