Napoleão Bonaparte

O menino corso inteligente e político nato era filho de descendentes da nobreza italiana. Seu  pai Carlo Maria foi representante  da Córsega em 1777 na corte de Luis XVI e sua mãe    Letícia foi  forte o suficiente para criar seus sete filhos e  educar o mais indisciplinado deles. Esse filho conseguiu destaque por onde passou e ao longo do tempo transformou os destinos da França.

Nasceu em 1769 e já em 1779 estava matriculado numa escola de ensino rigoroso onde aprendeu francês e logo entrou para a academia militar. Como falava francês com sotaque italiano e sem conseguir soletrar, era provocado pelos colegas. Para superar sua fragilidade,dedicou-se  à literatura,  matemática, história e geografia. Em 1784, ao completar seus estudos, entrou para a Escola Militar de Paris onde estudou para se tornar oficial de artilharia. Formado em 1785, tornou-se segundo tenente e serviu em Valence e Auxonne até a eclosão da Revolução Francesa. E aí a história de Napoleão Bonaparte dá uma guinada.

Ainda na Córsega, Napoleão se envolveu em lutas entre realistas, revolucionários e nacionalistas corsos, apoiando os jacobinos franceses. Já tenente-coronel, comandou voluntários e seu desempenho foi tamanho que em 1792 foi promovido a capitão, agora em Paris. Angariou a simpatia dos irmãos Robespierre. Sempre pretendendo destaque, mas lutando como poucos, foi conquistando espaço e apoio dos poderosos  e rapidamente foi nomeado comandante de artilharia das forças republicanas no cerco de Toulon, cidade que se rebelou contra as forças republicanas e foi ocupada por tropas britânicas. Ele obrigou as forças inglesas a evacuar, foi baleado na coxa, capturou a cidade, e assim foi promovido a general de brigada e encarregado da artilharia do exército francês na Itália.

Em 1794, com a morte de Robespierre, ficou em prisão domiciliar por sua associação com o Terror, mas aí suas habilidades já despertavam o respeito dos militares e foi convidado a elaborar planos para atacar as posições italianas na guerra da França com a Áustria e a participar de uma expedição de retomada da Córsega dos britânicos. Só que seu exército foi derrotado pela marinha britânica… e a antipatia pela Inglaterra só aumentava…

Bonaparte insurgia-se contra situações onde não via oportunidade de sucesso e com isso chegou a enfrentar crise  financeira e redução de  expectativas de carreira. Entretanto, num tempo em que monarquistas rebelavam-se contra a Convenção Nacional, suas façanhas em Toulon chegaram aos ouvidos de Paul Barras, o líder do Diretório, que lhe deu o comando das forças militares em defesa da Convenção. Ele venceu os monarquistas e o fato lhe deu fama repentina, riqueza, e apoio do Diretório.

Os caminhos estavam abertos. Noivo de Desirée, a bela herdeira de ricos comerciantes de Marselha, Bonaparte rompeu o noivado e  casou-se louco de paixão  com a influente  Josefina de Beauharnais, ex-amante de Paul Barras. A partir daí, no comando do exército francês, liderou, invadiu, conquistou, saqueou, quis marchar contra o Vaticano e destronar o papa, deixou a Europa em estado de choque. Circulava com desenvoltura  na política francesa, fundou jornais, foi eleito membro da Academia Francesa de Ciências, numa expedição vitoriosa ao Egito acompanhado por cientistas, matemáticos, naturalistas, químicos, conseguiu encontrar a Pedra de Rosetta e com tantas façanhas bem planejadas já era visto como possível ditador. Em 1799 liderou um golpe de Estado , o 18 Brumário, instituiu o Consulado  e sagrou-se primeiro cônsul. Foi sua ascensão ao poder.

A França realizou um plebiscito em 1804 que resultou na aprovação da era napoleônica. A partir daí  o poder monárquico foi restituído no país  e Napoleão foi indicado para ocupar o trono. A coroação aconteceu na catedral Notre Dame, onde ele ousou impedir que o papa Pio VII o coroasse, coroando-se ele próprio e depois coroando sua mulher Josefina,deixando claro que não toleraria autoridade alguma superior a ele. Tornara-se um déspota.

Observando a história, entendemos que Napoleão Bonaparte representou em si próprio a consagração da Revolução Francesa e foi o chefe militar que o país esperava. Homem de grande cultura, reorganizou o arruinado exército francês  transformando  soldados em heróis  – Grande Armée -, governou por conta própria por dez anos. Obteve grande número de vitórias militares, sendo a mais significativa  contra o Império Austro-Húngaro. Além disso, realizou importantes reformas na área pública da saúde e da educação, reorganizou a Bolsa de Paris, criou o Código Napoleônico que é o conjunto de leis inspiradas na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão que influenciam a França até hoje, criou o Banco da França, recuperou Paris que fora dilacerada na Revolução e lá mandou construir as pontes de Austerlitz, Saint Louis e de Arts, mas em contrapartida reimplantou a escravidão nas colônias por considera-la necessária à economia local. Tal como Clovis, Carlos Magno, Luiz IX, Francisco I, Luis XIII e Luis XIV, representou para a França um divisor de águas.

Em 1805 os franceses usaram a marinha para atacar a Inglaterra, mas foram  derrotados pelos ingleses na célebre Batalha de Trafalgar comandada pelo almirante Nelson. Buscando outras maneiras de derrotar a Inglaterra, em 1806  Napoleão decretou o Bloqueio Continental que determinava que todos os países europeus deveriam fechar os portos ao comércio com a Inglaterra. Foi aí, inclusive,  que  D. João VI rei de Portugal, dependente e ligado à Inglaterra, optou por transferir o poder para sua maior colônia – o Brasil, deixando Portugal à deriva porém enganando o próprio Napoleão.

Na época do Império, Bonaparte realizou uma série de batalhas conquistando novos territórios para a França e em torno de 1812 toda a Europa Ocidental e grande parte da Europa Oriental eram ocupadas por ele. Concedeu títulos nobiliárquicos aos seus familiares, colocou-os em altos postos públicos, formou nova corte com membros da elite militar, da alta burguesia e da antiga nobreza. Construiu monumentos grandiosos para festejar seus feitos como o Arco do Triunfo, e com grandiosidade e criação de novos empregos mantinha sua imagem em alta. O homem forte da república tornou-se o nobre mais poderoso da Europa. Precisava de um herdeiro: prático, dispensou Josefina que não conseguia engravidar e casou-se com Maria Luisa da Áustria, que lhe deu um filho – Napoleão II.

Até que em 1812 Alexandre I da Rússia rompeu o bloqueio contra os ingleses e  em represália Bonaparte invadiu a Rússia, onde foi vencido pelo inverno russo. Na volta dessa derrota foi derrotado mais uma vez  na Batalha das Nações e obrigado a abdicar. Em 1814 exilou-se na ilha de Elba, de onde escapou em 1815 e reconquistou o poder por cem dias. Entretanto, entrou em conflito com os republicanos e tendo que enfrentar a coligação anglo-prussiana na Batalha de Waterloo, foi novamente derrotado e abdicou pela segunda vez. Foi seu fim e o fim de uma época.

Preso e exilado pelos ingleses na Ilha de Santa Helena, seu séquito ficou reduzido a poucos seguidores que ouviam suas críticas contra aqueles que o capturaram. Sem família e sem poder, ocupava o tempo escrevendo memórias. E foi numa prisão inglesa que essa figura histórica ambígua, de um lado símbolo do orgulho nacional e de outro  sinônimo de agressão, ocupação e destruição, o homem mais poderoso da Europa,  morreu derrotado pela Inglaterra  em  5 de maio de 1821. Seu filho, Napoleão II, morreu cedo e jamais governou.

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