Restauração

A derrota do império napoleônico em 1815 na Batalha de Waterloo abriu caminho para que potências estrangeiras que ocuparam Paris restabelecessem a dinastia dos Bourbons. Luis XVIII, irmão de Luis XVI – o rei decapitado, foi escolhido para ocupar o trono. Ele tentou garantir o cumprimento da Constituição de 1814 que estabelecia monarquia parlamentar e  reformas sociais expressas nos códigos de leis napoleônicos num regime representativo mas não democrático. Reinou até morrer em dezembro de 1824.

O  sucessor de Luis XVIII foi seu irmão Carlos X, autoritário e mal adaptado ao regime constitucional. Promulgou uma série de decretos para convocar novas eleições, reduzir o número de eleitores e restringir a liberdade de imprensa. O descontentamento dos franceses com o governo autoritário de Carlos X provocou a revolução de julho de 1830 com barricadas em todos os cantos de Paris. Com a vitória dos insurgentes os monarcas moderados afastaram o rei, que foi obrigado a abdicar. Foi o último rei da dinastia dos Bourbons.

O trono foi oferecido ao Duque de Órleans, apresentado ao povo como “príncipe devotado à causa da Revolução” que  assumiu o trono como Luis Felipe I . Foi a chamada Monarquia de Julho, dominada por banqueiros, homens de negócios e proprietários de terra beneficiando a alta burguesia. Sob esse governo Paris vivia em constante estado de ebulição e rebelião. Os bairros pobres continuavam imundos, superpovoados e insalubres, o que favoreceu  a epidemia de cólera de 1832. A agitação revolucionária intensificava-se cada vez mais ruas estreitas com barricadas  que as tropas do governo não conseguiam  conter. Diferentes facções promoviam manifestações violentas  e participavam de complôs para matar Luis Felipe, enfim um tumulto generalizado que só teve uma pequena trégua com a  iluminação da Place de La Concorde e a inauguração da estrada de ferro Paris-Rouen. Mas a insatisfação popular não se acalmou, ao contrário, deflagrou outra revolução: a de 1848, quando a Segunda República foi proclamada.A partir daí o regime era presidencialista e unicameral.

Luis Napoleão, sobrinho de Bonaparte, foi  eleito presidente por maioria, mas os monarquistas eram contrários à República. Após quatro anos de governo ele deu golpe de Estado, restaurou o Império e assumiu com o título de Napoleão III. No início desse império, Paris, já com um milhão de habitantes,  continuava sendo foco permanente de oposição em suas ruelas medievais cheias de cortiços. Por iniciativa do imperador a capital francesa passou por outra revolução: a urbanística, chefiada com mãos de ferro pelo Barão Haussmann. Ele  transformou a cidade arrasando velhos bairros medievais, abrindo largas avenidas e bulevares, impondo  largura mínima de 20 metros nas novas ruas para que um batalhão pudesse se posicionar se necessário. Haussmann mandou construir prédios em estilo padronizado com no máximo 25 metros de altura, criou teatros, hospitais, parques, jardins como Buttes-Chaumont e Montsouris, embelezou o Bois de Vincennes e o Bois de Bologne além de implementar completo sistema de água encanada e esgoto para as ruas. Surgiram os famosos cafés e bistrôs. Paris se tornou numa metrópole moderna, charmosa e elegante.

A modernização de Haussmann esbarrou numa divisão acentuada entre ricos e pobres. O surgimento do elevador polarizou mais ainda a situação e os mais carentes foram praticamente expulsos de Paris para os subúrbios. Mas as coisas se acomodavam e Paris vivia com mais tranquilidade, até que em 1870 Napoleão III resolveu entrar  numa desastrada guerra contra a Prússia sem o devido preparo da França. Com o fracasso, o imperador foi preso, os franceses indignados não aceitaram a rendição e proclamaram novamente a República.

O novo governo foi liderado pelo general Trochu, que não conseguiu deter Bismarck, o comandante prussiano, que sitiou Paris por penosos meses, forçando a rendição pela fome e dificuldades de toda ordem. Como o transporte de Paris era feito por tração animal, Bismarck mandou sacrificar cavalos e burros, depois gatos, cães e ratos que passaram a ser mortos e vendidos em mercado, além dos animais dos zoológicos Jardin de Plantes e Jardin d’Acclimatation. Sem meios de deixar a cidade, os parisienses, famintos, finalmente, em janeiro de 1871 afastaram Trochu e  novo governo com sede em Versalhes concluiu um armistício. Pelo acordo, a França comprometeu-se a pagar indenizações de guerra e perdeu a maior parte da Alsácia-Lorena.

Adolphe Thiers assumiu o governo em meio a grande insatisfação popular com os termos do armistício, as  péssimas condições de trabalho dos operários, e a tentativa de aumento de impostos para saldar dívidas da guerra franco-prussiana. Em meio a esse clima tenso nova revolução estourou derrubando o governo republicano. Instalou-se a Comuna de Paris constituída por jacobinos, anarquistas e socialistas que tinham como meta principal autogestão das fábricas e melhoria das condições de vida e de trabalho dos operários. Essa tentativa de governo socialista com base operária também foi experimentada em Lion, Marselha, Toulouse. Thiers, apoiado pela alta burguesia conseguiu dominar a Comuna, mandando fuzilar milhares de insurgentes. Novamente Paris foi depredada, muitos de seus prédios públicos incendiados e regiões populares arrasadas.

Comuna-de-Paris

Depois de tanta tempestade, a capital foi lentamente voltando ao ritmo normal e a reconstrução trouxe consigo urbanização de novos bairros e edificação de belos edifícios. O movimento popular também foi se reorganizando e já em 1876 aconteceu o primeiro congresso operário de Paris.

Nesses tempos, novas possibilidades  tornavam a cidade charmosa e moderna.  Opéra foi inaugurada, os parisienses deslumbravam-se com a eletricidade que permitiu o surgimento de  bondes elétricos e iluminação dos grandes bulevares, surgiu o telefone. Conforto doméstico e higiene também se tornaram possíveis com a possibilidade de água encanada e pode-se dizer que o final do século trouxe a Paris uma trégua agradável e quase serena.

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