Belle Époque

No final do século XIX o êxodo rural, a estabilidade político-econômica, a noção de progresso atrelada ao desenvolvimento industrial, o desenvolvimento das comunicações e da tecnologia, o uso da eletricidade, tudo isso aliado ao crescimento urbano propiciou o surgimento de uma nova cultura francesa de divertimento que ganhou status social. Falamos da Belle Époque, de uma cultura urbana incentivada pelos meios de comunicação e transporte,  um tempo de florescimento do belo, de efervescência cultural,  transformações e avanços científicos,  paz, otimismo e prosperidade econômica  no território francês e nos países europeus mais próximos. Pode ser compreendida como um estado espiritual na história da França que ocorreu  por volta de 1871 até a eclosão da Primeira Guerra Mundial.

Foi um tempo de avanços tecnológicos que se traduziam em novos modos de pensar e viver o cotidiano e onde o cenário cultural fervilhava com o aparecimento do cinema, dos cabarés, do cancan e tudo levava a uma sensação de liberdade. A vida parecia puro entretenimento.   Na literatura, o estilo malicioso e sensual fez escola. Já a moda realçava os contornos femininos com  vestidos com  cintura apertada por cintas elásticas culminando com pregas de tecido que  avolumavam os quadris, além de decotes ousados que revelavam seios comprimidos por corpetes. A extravagância virou moda.

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A mulher, independente de sua classe social, adquiriu nova imagem sensual nem romântica nem naturalmente real, passando a ser vista como consumidora,  alimentando vários nichos de mercado como moda, joias, acessórios, artes decorativas  e maquiagem. Pode-se dizer que aqui se verificou o  processo inicial de emancipação feminina.

A elite intelectual fervilhava. Beaudelaire, Rimbaud, Verlaine, Zola e Anatole France atuavam na poesia e na prosa. A arte de  Toulouse Lautrec rompia com o tradicional. O ousado estilo arquitetônico Art Nouveau de Hector Guimard utilizava ferro forjado, vidro e colunas embelezando o metrô de Paris inaugurado em 1900 e  Émile Gallé encantava a todos com seus vitrais, lembrando-se também do projeto de Henri Deglane para o Grand Palais construído pra a Exposição Universal de Paris de 1900 e sua bela cobertura em aço e vidro .  René Lalique, Eugène Grasset e Alphonse Mucha projetavam o novo gosto feminino na joalheria e nas artes decorativas. Blanche d’Antigny e Liane de Pougy  levavam o público ao delirio na música, na dança e teatro, além de Sarah Bernardt , considerada a maior atriz dramática de seu tempo.

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O surgimento do telégrafo sem fio,  telefone,  cinema ,  bicicleta,  automóvel,  avião e a evolução da ciência deixavam os parisienses extasiados. Paris teve grande visibilidade através das Exposições Universais e em 1900 se tornava o centro produtor e exportador da cultura mundial com seus cafés consertos, balés, operetas, livrarias, teatros e boulevares, sem falar na alta costura que influenciou várias regiões do planeta. O estilo Art Nouveau, a nova arte aplicada à indústria, valorizando o ornamento, cores e curvas sinuosas baseadas em formas elegantes das plantas quebrou a sobriedade da arquitetura de Haussmann;   a torre de Gustave Eiffel construída em ferro e inaugurada em 1889 para ser demolida em vinte anos,  de tão fascinante, resistiu à regra e se tornou símbolo da França.

Um grupo de artistas resolveu romper com as regras vigentes da pintura e criou o Impressionismo, um movimento que não se importava com  temáticas nobres e com o retrato fiel da realidade e sim com  a pintura como  arte em si mesma. Para isso pintavam geralmente ao ar livre, na tentativa de captar a luz e o movimento. Como muitos de seus trabalhos foram mal avaliados no Salão oficial da academia, criaram o Salão dos Recusados que veio a se tornar grande concorrente do salão oficial. Alguns de seus grandes expoentes foram Monet, Manet, Degas, Renoir, Sisley, Pissarro, aqueles que pintaram livremente, romperam com o tradicional e até hoje são respeitados, estudados e levam aos museus de Paris número considerável de turistas e interessados em arte.

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Tantos acontecimentos importantes implicavam numa mudança de comportamento individual e na compreensão do cotidiano. Além disso,  a iluminação a gás nas vias públicas, a inauguração do metrô e o surgimento do bonde inicialmente a vapor e depois elétrico propiciavam o livre acesso das pessoas às ruas à noite. Os cafés-concerto  como o Moulin Rouge e Folies Bergeres com preços acessíveis proporcionavam prazer ao alcance de todos; podia-se comer, beber, falar com amigos, conseguir companhia com uma cortesã ou corista, assistir  peças de teatro, sátiras aos poderes estabelecidos e personagens famosos, recital de poesia, circo, acrobatas, bailarinas, cantores, palhaços, equilibristas, tudo sem ter que esperar o final da apresentação. Tudo era possível. Inclusive a fusão de elementos da cultura erudita com as classes baixas.

Os costumes estavam cada vez mais liberados, elásticos, libertinos. E nesse caldo cultural os franceses não se davam conta da importância e do perigo que a nova nação alemã representava para a hegemonia da Inglaterra e da França na Europa.  Muitas tristezas estavam por vir.

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