Primeira Guerra Mundial

Com todas as perdas e humilhações decorrentes da derrota na guerra franco-prussiana, reinava na França  certo revanchismo à espera da oportunidade de reconquista da região da Alsácia-Lorena perdida para Alemanha. A segurança francesa se tornou preocupação constante e nesse meio tempo o governo orientou seus objetivos para a expansão ultramarina estabelecendo o segundo  império colonial em extensão na África e na Ásia, só inferior ao  britânico. Nesse contexto, Inglaterra e França tornavam-se as grandes potências europeias e exploravam diversas colônias ricas em matérias-primas  com grande mercado consumidor. Essa partilha deixou descontentes a Alemanha e a Itália, que ficaram fora do processo neocolonial  e dos bons resultados.

Desde o final do século XIX os países europeus já começavam a fazer alianças políticas e militares e em 1882 a Alemanha, Itália e o Império Austro-Húngaro firmaram a Tríplice Aliança. Por outro lado, a forte disputa comercial entre países  europeus gerou conflitos de interesses entre as nações, o que gerou uma corrida armamentista, prenunciando formas de ataque e defesa.

Reinava um clima de relativo otimismo francês mas, mesmo assim,  em 1894 a França e a Rússia firmaram aliança defensiva de ajuda mútua contra os alemães e austro-húngaros e dez anos mais tarde o temor comum representado pela Alemanha estimulou a França e a Inglaterra a resolver suas diferenças coloniais e iniciar negociações para unificar suas operações militares e navais na Europa. A Inglaterra e a Rússia também resolveram seus problemas e junto com a França e formaram a Tríplice Entende em resposta à Tríplice Aliança.

A sensação de paz aparente estava permeada por constante  estado de alerta e o clima de  normalidade era influenciado por forte  nacionalismo nos países de origem germânica e eslavos. E ocorreu o estopim da deflagração do conflito: o assassinato de Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro durante sua visita a Saravejo (Bósnia-Herzegovina) em 1914. Ele foi morto juntamente com sua mulher por um jovem integrante do grupo sérvio Mão Negra, contrário à influência austro-húngara na região das Balcãs. Diante da tragédia, o Império Austro-Hungaro não aceitou as medidas tomadas contra o crime e declarou guerra à Sérvia.

Os interesses franceses não estavam implicados diretamente na disputa balcânica contra a Áustria-Hungria e Rússia, mas baseados na aliança de defesa mútua, o governo respaldou os interesses do aliado  russo. Declarando apoio à Áustria-Hungria, a Alemanha declarou guerra à Rússia e, após a negativa francesa de neutralidade, declarou também guerra à França. Começou o conflito mais mortal da história até então com mais de nove milhões de mortes. Era o início do fim de uma era de paz.

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A França entrou na Primeira Grande Guerra com  entusiasmo, baseada em sucessivos sucessos científicos, políticos, econômicos, culturais, certa de que o conflito seria fácil e de curta duração. Grande engano! Os jovens  convocados para a luta acatavam a decisão como se fora uma oportunidade de mostrar seu valor, iludidos por um clima de otimismo sem base sólida. Entretanto, se depararam com batalhas desenvolvidas em trincheiras, expostos a intempéries, ratos e fome. Ficavam muitas vezes centenas de dias entrincheirados, lutando por pequenos pedaços de território, sem contar que, despreparados, se deparavam com novas tecnologias de combate, como tanques de guerra e aviões.

Declarada a guerra, os alemães conseguiram chegar a alguns quilômetros  de Paris e bombardearam a cidade primeiro com zepelins e posteriormente com aviões e artilharia de longo alcance. Vale lembrar que em meio a ataques e muitas mortes a capital foi salva de ser invadida em parte pela colaboração dos taxistas que transportaram às pressas soldados para o front.

Como muitos combatentes foram enviados aos campos de batalha, surgiram  lacunas de mão de obra e assim as mulheres foram chamadas para trabalhar nas fábricas e até para guiar bondes. É nesse momento que começa a importação de mão de obra estrangeira, como a chinesa, por exemplo, que até hoje se faz presente na fundação de vários restaurantes em Paris.

A França entrara na guerra com garras e superioridade, mas só conseguiu vitória com a entrada dos Estados Unidos em campo, na questão de rivalidade com o império alemão. Nesse estado de coisas, em 1918, a conjugação das   forças aliadas com a entrada dos Estados Unidos na guerra somado ao esgotamento da maquinaria bélica alemã, permitiu aos aliados ofensiva tal que obrigou o governo alemão a pedir paz. E em 11 de novembro de 1918 a recém República de Weimar aceitou o armistício firmado no Tratado de Versalhes.

Com a paz de volta à Europa, já em 1919 começaram a funcionar as primeiras linhas aéreas comerciais do mundo, ligando Paris a  Londres e a Bruxelas e a  cidade-luz se tornou polo de atração para artistas, cineastas, pintores e escritores do mundo inteiro. Aliviados, todos queriam se encontrar em Paris!

Entretanto, a guerra não se resolveu bem na França. A começar pelo problema interno e agudo da estabilização do franco, que prejudicou diretamente a burguesia dependente de suas economias e que foi o núcleo de apoio social à república.   Mas o pior problema foi que  a França, numa atitude claramente vingativa, impôs uma série de restrições humilhantes à Alemanha com funestas consequências. Uma delas, considerada a pior, foi que  sem o referido Tratado e seu  estoque de crueldades, a alta burguesia industrial e financeira alemã não teria apoiado a ascensão de Adolf Hitler…

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