Entre Guerras

O período de 1918 a 1939, considerado entre guerras, é uma fase dramática na história da Europa. As consequências da Primeira Guerra foram sentidas durante anos por derrotados e vitoriosos que sofreram enormes perdas. Saldo de milhões de mortos, cidades destruídas, economias falidas, conflitos sociais, enfim um conjunto de fatos que  deixou todo o continente em estado de dor, absoluta  dificuldade para reconstruir tudo o que foi arrasado e para recuperar e modernizar o parque industrial com carência de matérias-primas básicas, sem falar no  desemprego e da falta de perspectivas a curto e médio prazos.

Além da falta de estrutura, os longos combates acarretaram  crise financeira de grandes proporções, proporções essas  alavancadas por  gastos militares exorbitantes. A  corrida armamentista instalada na guerra proporcionou forte  desenvolvimento militar com tanques, aviões e bombas enquanto a população se quedava  estarrecida e impotente com a perda de nove milhões de pessoas entre civis e militares com idade entre 20 a 40 anos e  feridos que atingiam a marca de 30 milhões.

Nessas condições de precariedade  e  desamparo o civismo foi abalado e os trabalhadores se rebelaram  passando a exigir seus direitos, motivados, em parte, pela Revolução Russa de 1917 que inspirou o surgimento de movimentos revolucionários pró-socialistas. Os acordos de paz não atingiram os objetivos esperados  e antigas questões de convivência não foram resolvidas, o que abriu espaço para o aparecimento de novas questões. Junte-se a isso outro fato marcante, a  Grande Depressão, motivada pela queda da bolsa de valores de Nova York, que afetou a economia de inúmeros países e agravou mais ainda as tensões sociais e políticas.  Nesse estado de coisas, a criação de novos estados nas Balcãs causava enfrentamentos numa região politicamente jovem, levando a uma situação  propícia à ascensão dos regimes totalitários. Inglaterra e a França concederam direitos sociais aos trabalhadores enquanto na Itália, na Alemanha e na Espanha, o “perigo vermelho” justificou o surgimento dos governos totalitários.

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Para os Estados Unidos a década de 1920 foi marcada por forte crescimento econômico, com o povo desfrutando de inovações tecnológicas como eletrodomésticos, rádio, cinema e vitrola, que se tornavam bens de consumo. Automóveis tomavam as ruas e o transporte aéreo se tornava realidade. Expandiram seus mercados e emergiram como potência mundial, tomando posição de destaque no cenário político e militar  Já para a Rússia, que vinha da Revolução de 1917 quando os bolcheviques liderados por Lênin derrubaram a monarquia czarista prometendo paz, pão, liberdade e trabalho, a Primeira Guerra criou mais desalento e mais desequilíbrio político interno.

A Inglaterra e os Estados Unidos não ofereciam garantias para evitar o rearmamento alemão e a França estabeleceu aliança com a Bélgica e outros países da Europa Oriental na tentativa de obter certa segurança no caso de ataque. A Itália, aliada aos vencedores, frustrou-se com a falta de ganhos materiais e nesse estado de coisas os fascistas ganharam força; sob a liderança de Benito Mussolini,  os fascistas assumiram o poder em 1922 na Marcha sobre Roma.

Ao mesmo tempo, a Alemanha atravessava grave problema. A recémcriada República de Weimar, foi extremamente conturbada e teve curta duração por uma série de motivos, dentre eles a derrota do império alemão, que provocava revolta e ressentimento no povo. A “Lenda da Punhalada pelas Costas” acusava liberais, comunistas, judeus e pacifistas de omissão,  sabotagem e  traição. Como já foi dito,  as condições do Tratado de Versalhes tiraram da Alemanha as condições de se reerguer. Sem um  oitavo de seu território, sem seu império colonial, com exército reduzido e arcando  com grandes indenizações de guerra para os  vencedores,  toda a sociedade se ressentia , a hiperinflação de 1923 só trazia fome e insegurança, enfim, a grande penúria  gerava grandes conflitos e  grupos paramilitares se enfrentavam violentamente nas ruas. Com governo frágil e Inspirados pela Marcha sobre Roma na Itália,   o mais agressivo desses grupos, os “camisas pardas” nazistas promoveram uma espécie de golpe de estado na Baviera, golpe esse que falhou causando a morte de dezesseis pessoas.  Um dos participantes do conflito, o que foi preso por nove meses e aproveitou esse tempo para escrever  livro “Mein Kampf” era Adolf Hitler, que, inteligente, desistiu de tentar tomar o poder pela força e decidiu alcançá-lo pelos meios legais.

Adolf Hitler era membro do Partido dos Trabalhadores Alemães (DAP). Como cabo, foi agente de inteligência e incumbido de infiltrar-se e observar as atividades da organização. Consta que  numa das reuniões  impressionou tanto com sua oratória que logo foi convidado para integrar o partido nazista.  Comunistas e socialistas  juntos detinham a maioria no Congresso mas recusaram-se a formar aliança anti-nazista com os social-democratas;   dessa maneira, em 1932, com a divisão da esquerda e a derrota dos liberais o partido nazista  deteve a maioria e Hitler foi indicado para o cargo de Chanceler. Tornou-e sua principal liderança, conquistou o poder e passou a governar a Alemanha de forma totalitária.

Hitler aboliu direitos, reprimiu políticos, dissolveu o Parlamento, convocou novas eleições,  e no final ganhou plenos poderes. Iniciou a eliminação sistemática da oposição, fechou partidos e sindicatos, prendeu, mandou dissidentes políticos  bem como  qualquer grupo classificado como “sub-humano” como judeus, ciganos, homossexuais para campos de concentração  e mandou assassinar seus opositores. Ridicularizou a arte moderna considerada “judaica-bolchevista”, fechou a Bauhaus, (primeira escola de design do mundo) baniu e destruiu livros considerados semitas ou anti-germânicos. Para ele, os judeus foram  culpados pelas agruras da Alemanha e assim excluiu-os da administração nacional e obrigou os  funcionários públicos a ingressar no partido nazista. Grandes personalidades judaico-alemãs como Albert Einstein, Conrad Veidt e Hannah Arendt partiram para o exílio.

A violência e a repressão atingiam a todos, inclusive  nazistas  adversários. Concomitantemente o regime promulgava leis de segregação racial  e adotava medidas para recuperar a economia, expandia e modernizava as forças armadas, investia na indústria bélica   conduzindo uma   política externa agressiva. Surpreendendo a comunidade internacional, o ministro da economia nazista eliminou a inflação e elevou o país a níveis de  crescimento econômico acelerado, recuperando a nação. Nesse caldo de recuperação e perversidade, em 1939 a Alemanha nazista era responsável por 11% da produção industrial mundial. O povo alemão estava entregue ao nacionalismo e à tutela de Hitler.

Descumprindo o Tratado de Versalhes, Hitler remilitarizou a Renânia, aliou-se ao Japão e à Itália, interveio na Guerra Civil Espanhola e anexou a Áustria à Alemanha. Aproveitando-se da debilidade das nações, seguiu com sua política expansionista e em 1939 invadiu a Polônia desencadeando a Segunda Guerra Mundial.

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