Em contraste com o reinado de Luis XIV, o de seu bisneto Luis XV caracterizou-se por lutas entre facções cortesãs e pela fracassada política externa. Luis XV, o Bem Amado, teve educação excelente, foi ávido leitor, com mente aberta e gosto eclético, criador, inclusive, de estilo na arte decorativa; entretanto, não se revelou bom governante. Mergulhado em seus próprios recursos intelectuais, resolveu governar sem primeiro ministro, o que se mostrou desastroso administrativamente. Fracassou em realizar reformas, favoreceu a prosperidade da aristocracia e da alta burguesia num país arruinado financeiramente, esbanjou enormes fortunas com a corte e suas famosas amantes, dentre elas Madames Pompadour e Du Barry que interferiam nas atividades do reino, ou seja, com seu modo de administrar o rei afetou o prestígio da coroa perante o povo e com tanto desgoverno deixou para seu sucessor Luis XVI um pais insolvente. Sem querer, Luis XV preparou a revolução republicana.
A responsabilidade de enfrentar a crise recaiu sobre Luis XVI, um jovem indeciso que, despreparado, aos 21 anos foi coroado rei dos franceses. Assumiu o poder em meio a altas despesas provocadas por guerras, extravagâncias da corte, baixa arrecadação e consequente necessidade de aumentar impostos. Se Luis XIII e Luis XIV reconstruíram a economia francesa, Luis XV a dilapidou e Luis XVI , embora esforçando-se para reergue-la, herdou uma situação impossível de ser revertida. Pagou por todos os seus antecessores. Há que se considerar que vários fatores nesse final de século XVIII contribuíram para a queda da monarquia e para que a ideia de revolução se intensificasse.
A Revolução Industrial na Inglaterra vinha despertando grande interesse no povo francês. Afinal, lá se criou uma classe independente do poder monárquico, a classe média; além disso, o poder de governo foi transferido para o parlamento, mesmo sem destituir o rei, gerando um sistema político – a monarquia constitucional. E mais, a Revolução Industrial transformou o dinheiro e o empreendedor em indústria, tirou o trabalhador da condição de servidão e o transformou em mão de obra. Dessa maneira, formou o primeiro estado capitalista. Eram transformações significativas e de grande interesse popular.
Em 1776 a, França engajou-se ao lado dos americanos na guerra de independência contra a Inglaterra. Esse fato onerou os cofres franceses já tão dilacerados além de representar uma rebelião contra a monarquia opressiva onde se materializaram os valores de igualdade e liberdade. Incoerências, maus gastos e ideias republicanas só refletiram desastradamente no governo do rei.
Em consequência do aprimoramento da imprensa, a difusão de jornais aumentou e consequentemente aumentaram as informações a respeito dos países, seus governos, suas conquistas e seus desmandos. Lia-se constantemente ataques ao regime monárquico francês, inclusive com sérios ataques à rainha Maria Antonieta, a austríaca detestada pelo povo, considerada usurpadora, sem moral e demasiadamente intrometida em negócios de Estado. Além disso, a França já contava com os famosos cafés e sallons que se tornaram ponto de encontro de artistas, filósofos e intelectuais iluministas que influenciaram os revolucionários de 1789 e contribuíram para mudar os rumos da história.
Em 1788 a França estava mergulhada na mais séria crise financeira provocada por reiterados erros administrativos e foi um ano com clima atípico. Além da grande penúria que assolava o povo, temperaturas absurdamente baixas no inverno chegando a 30 graus negativos impediram o abastecimento de Paris e o funcionamento dos moinhos movidos a água. Os rios congelaram, a primavera foi seca e no verão uma grande tempestade acabou com as lavouras. Fome e frio tornaram-se combustíveis poderosos de revolta para um povo que estava morrendo.
Luis XVI quis reagir: convocou os Estados Gerais em busca de rumo, mas a assembleia composta por aristocratas, burgueses e intelectuais que representavam o povo, de início já se posicionou contra a monarquia. Ele tentou obrigar o parlamento de Paris a aceitar os editos reais que privavam os parlamentares de seus poderes políticos e em consequência, enfrentou grande resistência por parte de juízes, cléricos e parlamentares que bloquearam todos os projetos de reformas apresentados pelos ministros do rei. Além disso, conseguiram apoio do exército e da população afetada pelos altos índices de desemprego e pelo alto preço do pão.
Num primeiro momento, mesmo os inimigos do regime não pensavam em derrubar a monarquia. Pretendia-se reformas, fim do Absolutismo e de privilégios. Mas nesse momento não existia na França uma classe média capaz de lidar com esse momento crucial; era o povo faminto contra a monarquia incompetente. Luis XVI não teve firmeza necessária e se deixou levar por influências vazias de conteúdo.
O fato é que os revolucionários derrubaram a Bastilha num grito de independência, um ato simbólico que deflagrou a revolução popular. Depois disso, por mais três anos, Luis XVI continuou reinando mas se viu obrigado a aceitar reformas e colaborar com forças emergentes do Terceiro Estado. As insurreições ocorriam tanto na cidade como no campo e em meio a todos os acontecimentos, a recusa do rei em eliminar resquícios feudais do regime e assinar decretos anticlericais despertaram a ira do povo faminto ancorado na radicalização revolucionária, o que precipitou os acontecimentos. A família real que estava recolhida em Versailles foi forçada a voltar a Paris.
O final, todos sabemos. Na tentativa de fugir para a Áustria o rei e sua família foram descobertos em Varennes e posteriormente detidos em prisão domiciliar no Palácio das Tulherias. O rei foi para Temple e guilhotinado; Maria Antonieta foi para a Conciergerie, julgada, condenada e guilhotinada. Fim de um tempo de glorias, poder, beleza e muita fome.