Mitologia

Mitologia é a coletânea das historias contadas oralmente pelos povos primitivos. O mundo do século VIII, VII aC por exemplo, é anterior a tudo o que conhecemos, e o que nos chega através da mitologia é um vasto mundo de confronto, complexidade e inteligência, onde os humanos não aparecem como individualidade representativa. A vida gira em torno de deuses, semideuses e humanos, onde nada é fixo; tudo está em constante mutação e em busca de novos elementos, de povos e pessoas diferenciados. Os fatos são narrados sem profundidade, entretanto, esse mundo que se encerra com o advento do alfabeto é considerado a porta de entrada da psique humana.

Zeus é filho de Cronos (senhor dos tempos) e Rhea; é irmão de Poseidon e governa o céu e a terra; seu símbolo é o raio (poder) e mora no Olimpo. É o deus maior da mitologia. Tudo faz e tudo pode, gera inúmeros filhos com inúmeras mulheres, apesar dos ciúmes de Hera, sua mulher ciumenta e vingativa. É um deus com jogo de cintura, que se transforma conforme as circunstâncias para conseguir o que quer: é chuva para conquistar Danae, é sátiro com Antíope, cisne com Leda, touro branco com Europa, só para citar alguns exemplos. Seus filhos são deuses e semideuses com defeitos e predicados, contraditórios, vingativos, ambivalentes, potentes em belezas e vícios, que suportam suas contradições. Têm ocupação, preocupam-se e discutem entre si maneiras de interferir nos problemas humanos, vivem em comunidade, fazem política e alianças e assim representam os dons e entraves da humanidade. Todos os dons humanos passam por eles, como por exemplo, a inteligência por Atena, a beleza por Afrodite, o amor por Eros, a força por Hércules e assim por diante.

Inicialmente vamos nos ater a Hércules, um dos mais célebres filhos de Zeus e da mortal Alcmena. Nasceu belo e seu nascimento causou enorme ciúme em Hera, já que Zeus proclamou que seu próximo filho seria coroado rei de Micenas. A deusa Hera, em seu desejo de vingança, fez com que Euristeu nascesse prematuro, de sete meses, antes do filho de Alcmena, e assim fosse proclamado rei. Além disso, mandou duas serpentes matar Hércules ainda no berço, o que foi inútil, pois ele as estrangulou demonstrando desde logo sua força.

Hércules foi educado pelo sábio centauro Quiron, o que não impediu que com sua força ajudasse deuses e gigantes, matasse, raptasse e fizesse sexo indiscriminadamente, inclusive com as cinquenta filhas de Thespios. Casado com Megara filha de Creonte de Tebas, deixou-se levar pela má influência de Hera e num acesso de fúria matou a mulher e os filhos. Neste momento entende que cometeu um crime absurdo, arrepende-se, isola-se, e mais tarde, convencido por Teseu, consultou o oráculo de Delfos na tentativa de reorientar-se e assim recuperar a honra e a paz. No oráculo, Apolo recomenda que ele se apresente ao rei Euristeu, medroso e intermediário de Hera, (o mesmo que usurpou seu direito de nascença) o sirva por doze anos e execute os trabalhos que lhe forem confiados, para no final recuperar a honra e se tornar imortal.

Vencido pela culpa Hercules segue o conselho do oráculo e se apresenta a Euristeu. Este determina a execução de doze trabalhos dificílimos, quase impossíveis, para que a reparação seja efetivada.

Nossas perguntas: Seria Hércules a matriz dos ideais e das falhas do homem? Seu caminho de ida para o crime e de volta para a paz com o cumprimento dos doze trabalhos representam as ilusões e as penitências a que os homens se submetem? Os agentes da causa (Hera) e da reparação (Euristeu) representam a ilusão e a mesquinhez humanas? A expiação de seus pecados com grandes sacrifícios seria suficiente para transformar sua vida? A mitologia responde…